Portugal ultrapassou os cem mil casos de covid-19 esta semana. A pandemia está numa fase ascendente, como noutros países da Europa.
Quem está no terreno não duvida do que aí vem será pior do que a primeira fase. E o presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública diz ser “exasperante” andar há sete meses a dizer o mesmo e “a resposta ser nula” em relação aos recursos nesta área. “Se a Saúde entrar em rutura, o país vai ter de fechar”.
Sete meses e 20 dias depois dos primeiros casos de covid-19 em Portugal, os médicos assumem que a população está cansada de tantas restrições. Mas não só. Admitem que cada vez mais quem está no terreno sente qual é o impacto económico e social da pandemia na vida das pessoas.
Os médicos de saúde pública, que diariamente têm de contactar dezenas, centenas e até milhares de pessoas em vigilância em todo o país, dizem mesmo que até já há “uma certa animosidade contra os profissionais de saúde”. Há quem recuse ficar em isolamento, há quem recuse dar os contactos mais próximos, por tal poder ter consequências no trabalho. Há mesmo quem já ameace estes médicos, com promessas de que irão à sua procura, quando telefonam a dizer que vai ter de ficar em isolamento.
Numa altura em que a pandemia está a evoluir, em que o governo apela à população para comportamentos adequados, numa altura em que o Presidente da República está a ouvir os vários setores da Saúde, o médico de saúde pública, epidemiologista e presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública (ANMSP), Ricardo Mexia, diz, em entrevista ao DN, ser “exasperante andar há tanto tempo a denunciar a falta de condições de trabalho, de estratégias e de coordenação, para se atacar a doença no terreno e a resposta ser nula”.
Por isso, reforça que entre o que está a acontecer nesta segunda fase da pandemia e a primeira não há muitas diferenças no que toca em relação aos recursos. Aliás, sublinha: “Não houve reforço das unidades de saúde pública” e “andamos a perder tempo com uma aplicação para o telemóvel e com a informação que não foi validade pelas ARS”.
Em julho alertava para a necessidade de se encontrar soluções que eram necessárias para se precaver o inverno e a gripe. Como, por exemplo, o atendimento na Linha SNS 24 de forma a dar-se mais resposta ao utente. Isto foi resolvido?
É triste constatar que há poucas diferenças em relação às necessidades que havia em março, em julho e agora. Por exemplo, em relação à Linha SNS 24 não fazemos ideia do que se passa. Não há dados sobre isso. Até ao dia 9 de março havia dados disponibilizados no Portal da Transparência do governo, mas desde que houve uma situação de rutura com milhares de chamadas que não foram atendidas e que o governo entendeu não disponibilizar mais tais dados, sabemos porquê mas não há justificação que assim seja. Tapar a realidade não ajuda a que ela se resolva.
É o que se passa em relação à falta de recursos e até de dados sobre a doença? Falta de transparência no fornecimento de informação à população? Os únicos dados vêm da Direção-Geral da Saúde [DGS]…
É de saudar a de saudar a DGS pelo boletim diário, mas porque não adotar a mesma estratégia para outras situações? Como para a Linha SNS 24, já que castigou o fornecimento destes dados, e até em relação a outro tipo de comunicação. Esta questão tem sido muito debatida, mas considero que deveria haver um sistema de informação, obviamente que salvaguarde a privacidade das pessoas, que fornecesse alguns dados livremente, para que outros os pudessem analisar. Poderia ser útil para a doença e para as tomadas de decisão, podendo até libertar-se a DGS de algumas funções.
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