Início Opinião Ao menos que deixem viver o “novo normal”

Ao menos que deixem viver o “novo normal”

Gonçalo LopesGonçalo Lopes

Vivo no campo, numa pequena localidade, cujo município não passa as 25 mil pessoas. Nesta localidade era vulgar entrar dentro de um café, também ele pequeno, e ouvir os locais falarem sobre assuntos que os preocupavam ou interessavam. Era um micromundo. Falavam do que aconteceu à criança, ao vizinho, que falhava a água ou a luz, a tal consulta de médico que tinham marcado ou as obras necessárias para o autarca local vencer as próxima eleições. Esta é a chamada sabedoria popular, o termómetro de qualquer localidade.

Esta normalidade perdeu-se. Os cafés mudaram. Sobretudo porque muitos ainda não fazem o dito horário normal e continuam a aplicar as medidas de segurança impostas pela direção geral de saúde de Portugal. A máscara, por exemplo, torna praticamente impossível uma troca de impressões sobre o que o autarca local deveria fazer em termos de novas infraestruturas, como o povo gosta de discutir. Mas pior que as máscaras é que as pessoas que continuam a frequentar o café já só se interessam por um tema, a Covid-19. Agora num café, nos poucos minutos que as pessoas ali passam, fala-se apenas de casos positivos, pandemia e de vacinas.

É evidente que tal situação não se observa apenas nos cafés. Eu que sou jornalista pergunto-me muitas vezes se não há mais temas para encher jornais. É tudo sobre a Covid-19: casos positivos, surtos, confinamentos, lares infetados, suspensões de eventos, máscaras, quarentenas e mortes. Muitos falam que esta realidade será o “novo normal”, que teremos de viver com isto. Agora que está a chegar o outono e depois o inverno é que quero realmente ver se este será o “novo normal”. Eu até admito que viver com o vírus durante muito mais tempo seja uma realidade. Contudo, para mim, o “novo normal” será realmente VIVER com ele. Ou seja, viver o dito “novo normal”, com cuidado, mas vivê-lo. Viver com a pandemia até que a ciência seja capaz de a parar. É que parar um país uma vez até pode (foi) possível, agora uma segunda vez é complicado, para não dizer impossível.

A situação é complicada. Em Portugal os casos andam a superar os 600 por dia e as escolas ainda nem começaram. Ou seja, é mais do que evidente que os casos vão continuar a subir. Mas mesmo que tal aconteça, esse dito “novo normal” tem mesmo de ser vivido. O governo tem de permitir que o seja. Caso contrário o país volta a parar, apesar dos governantes dizerem que isso não acontecerá. O governo até poderá não ordenar o encerramento de estabelecimentos, empresas, fábricas, etc. Mas, com todas as restrições que se perspetivam, a solução futura será apenas permitir que as pessoas se desloquem para os seus trabalhos e depois para casa? Será este o “novo normal”? Se assim for, o governo não estará a permitir que o vivamos e, quer queiram ou não, grande parte do país voltará a parar. E voltará a parar porque as pessoas estão de tal forma desanimadas e cansadas que não aguentarão essas vidas. E quem sofrerá serão as empresas, com baixas, com licenças pedidas e, consequentemente, sem mão de obra.

Todos sabemos que o tempo é de prevenção. Mas o que podemos fazer, esperar anos pela vacina dentro de um “novo normal” sem o viver? Senhores governantes, não pensem que o povo aguentará esta forma de vida muito mais tempo.

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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