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Taipé, a capital gay da Ásia


Em Taiwan, a homossexualidade foi proibida até 1987. Hoje, a ilha tem a legislação mais progressista da Ásia, permite o casamento gay e é um oásis para os gays perseguidos na China e em outros países. O governo de Taiwan até conta com uma ministra transgénero


O espaço tem à entrada um poster de um Buda gay ao lado de outro com um Jesus Cristo gay. Dentro, prateleiras cheias de livros e revistas da BD manga com homens nus nas capas. Também existem armários cheios de brinquedos sexuais para os clientes se divertirem. A reportagem do jornal espanhol El Mundo mostra-nos a primeira loja LGBT aberta na Ásia, a livraria GinGin, inaugurada há 21 anos em Taipei, capital da ilha que clama a independência do seu território contra a China.

“Aqui as pessoas vêm conversar, aprender e conhecer. Como há países na Ásia onde se é apedrejado vivo por ser gay, é um privilégio ter um um lugar tão livre quanto este », explica Lai Jeng-jer, o dono da livraria, espaço que é um símbolo importante liberdade sexual em Taiwan.

A reportagem propõe o seguinte teste de geografia oriental. Pergunta 1: qual é a capital política de Ásia? Pequim. Pergunta 2: qual é a capital financeira da Ásia? O pódio é partilhado por Hong Kong e Singapura. Pergunta 3: Qual é a capital gay da Ásia? Sem qualquer dúvida, Taipei, localizada na única nação do continente asiático onde o casamento homossexual é legal.

Taiwan é uma ave rara de liberdade, localizada a 130 quilómetros ao largo da costa sul da China. O centro político e social de uma pequena ilha com uma jovem democracia cuja soberania apenas 15 países reconhecem.

Participants jump in a pose while taking part in the annual gay pride parade in Taipei on October 26, 2019. – Thousands including members of the LGBT community on October 26 took part in the first gay pride parade held after Taiwan earlier this year legalised same-sex marriages, the culmination of a three-decade fight for equality. (Photo by Sam YEH / AFP)

Quando o coronavírus surgiu em janeiro em Wuhan, na China, muitos entenderam que Taiwan fosse incapaz de conter o surto se este cruzasse as suas fronteiras. Mas em oito meses de pandemia, a ilha registou apenas 488 infeções e sete mortos.

Taipé foi dos poucos lugares no mundo, onde, em final de junho, se celebrou nas ruas o Festival do Orgulho Gay de Taipé: cerca de 300 pessoas levantaram as bandeiras da liberdade da comunidade LGBT e uma bandeira com um arco-íris gigante encabeçou o desfile através de Liberty Square, uma grande praça no centro da capital.

Depois de cruzarem a praça, manifestantes posaram com a bandeira frente ao monumento de Chiang Kai-shek, que era um governante autoritário que trouxe a lei marcial para Taiwan depois de fugir à revolução comunista de Mao Tsé-Tung na China em 1949. Essa lei, que decretou a homossexualidade como um crime, foi removida do sistema penal de Taiwan em 1987.

Hoje, dentro de um novo normalidade em Taipé que se parece bastante à anterior, a vida LGBT da cidade é visível de dia e de noite. Qualquer um pode passear pelo bairro de Ximending e assistir em pleno dia a shows e jogos de magia drag queen nas ruas. À noite, há a opção de um cocktail num bar que parece um aquário, o Goldfish Bar. Ou dança techno numa garagem, o B1. Ou o karaoke gay do Gab. E ainda a possibilidade de ouvir boa música em direto no bar lésbico de Tabu.

Na ilha, o clima é de festa. Primeiro porque controlaram a Covid-19 sem fecharem o território ou imporem regras severas. Nisto foi muito importante uma mulher, Audrey Tang, ministra Digital do país. Esta ministra dotada de 38 anos já quebrou barreiras quando se tornou na primeira pessoa transgénero a ocupar um cargo no Governo de Taiwan.

No início da pandemia, Audrey Tang foi fundamental ao formar uma equipa de hackers para rastrear contágios e fornecer aos cidadãos sistemas de alerta com todo o tipo de informação sobre o coronavírus como um mapa em tempo real com a rede de lojas onde se vendiam máscaras e as ruas onde já estavam registados casos.

Taiwan celebra também o golpe de democracia que deu em janeiro nas eleições presidenciais. A candidata do Não ao vizinho chinês, Tsai Ing-wen, revalidou o seu mandato com uma confortável maioria.

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