Políticas educativas: Parte I
Até aos 2 anos a vinculação e a segurança emocional das crianças são fundamentais para o seu desenvolvimento. Mas a atual legislação não permite que, por opção, um dos progenitores possa dedicar este tempo aos cuidados e desenvolvimento da criança.
Após esta fase, a socialização e a aprendizagem em contextos de estimulação intencionalizada passam a ter um papel essencial na vida das crianças e das famílias. A educação pré-escolar assume-se como privilegiada na deteção precoce de problemas, orientação e encaminhamento, devendo ser universal a partir dos 3 anos de idade, garantindo uma rede capaz de dar resposta a todas as crianças. Mas este tempo de crescimento é ainda um tempo de brincar e explorar. Cada criança tem o seu ritmo, e este deve ser respeitado garantindo que, mediante o seu desenvolvimento e necessidades, cada uma possa fazer ou não uso do descanso através da sesta, o que ainda não é uma realidade em Portugal.
Por que precisam as crianças de estar tanto tempo na escola? A resposta é simples: porque os pais/mães têm que trabalhar demasiadas horas
O 1º ciclo marcará para sempre a vida das crianças e das suas famílias e atualmente é sobrecarregado de tarefas e horários. De repente, exige-se que as mesmas crianças, referidas no parágrafo anterior, passem horas sentadas e atentas, com trabalhos de casa que roubam o tempo em família. Entre a casa e a escola a realidade é esta: mochilas mais pesadas do que as crianças. E aqui espreita o primeiro perigo, o da rejeição e medo da escola. O insucesso. Por que precisam as crianças de estar tanto tempo na escola? A resposta é simples: porque os pais/mães têm que trabalhar demasiadas horas. Por que precisam de aprender mais rápido do que o seu ritmo exige? A resposta é simples: porque em vez de serem vistas como crianças, são vistas como reflexo do mundo competitivo que construímos. O peso dos livros simboliza a carga de tarefas e conteúdos excessivos nestas idades. Deixa de haver tempo para a acomodação das aprendizagens, só existe tempo para a assimilação. Das funções cognitivas privilegia-se a memória. Há que ter a coragem política de reduzir os conteúdos programáticos. E mesmo com tantos conteúdos programáticos, continua a faltar na transversalidade a literacia emocional e a educação para o tratamento digno dos animais, a par de uma educação ambiental que permita a compreensão e a leitura do mundo.
Promove-se a saúde e afirma-se que a atividade física e a alimentação são essenciais ao nosso bem-estar. Mas as políticas e práticas educativas desvalorizam disciplinas como a educação física ou o desporto escolar. E como se pode dizer que se combate a obesidade das crianças e se promove a alimentação saudável quando os cadernos de encargos aprovados para a alimentação nas nossas escolas olham mais para o preço do que para a qualidade nutricional das ementas nas cantinas? Ou quando a legislação de introdução da alimentação vegetariana não se faz acompanhada de formação e apoio para a sua implementação e esclarecimentos junto dos agrupamentos, das crianças e das famílias? Sem medos ou preconceitos, mas de forma informada, esclarecida e consciente.
Em jeito de finalização desta primeira parte, na nossa visão de Educação é fundamental que se crie espaço para falar de escolhas, mais do que orientação. A vida adulta é feita de opções, ganhos e perdas, projetos e mudanças. A orientação escolar e profissional não deve nem pode ser uma instrumentalização de escolhas, mas tem, sim, de ter os profissionais necessários para facilitar às nossas crianças e jovens o conhecimento de si e do mundo, de desenvolvimento de competências de análise de informação, de responsabilidade e tomada de decisão. Neste caminho os profissionais da educação e o pessoal não docente continuam sem a devida valorização e reconhecimento, o que é fundamental resolver politicamente.
Mais sobre educação em análise, na próxima semana.
*Deputada do partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN) – Portugal