Início Entrevista “Cozinhar tem de ser algo que faz parte de nós”

“Cozinhar tem de ser algo que faz parte de nós”

Michelle Dell’Aquila, chef executivo do The Manor, restaurante do hotel St. Regis Macau, diz que a cozinha passou a fazer parte da sua vida desde muito novo. Aos 13 anos, sonhava em ser chef e, nessa idade, já frequentava a escola de culinária.


“Sou italiano, venho de uma família que adora cozinhar. Os meus avós eram agricultores no sul de Itália e costumávamos produzir o próprio azeite, cultivávamos os próprios vegetais e cozinhávamos as refeições em família”, recorda.


Sediado em Macau há 11 anos, partilha com a PLATAFORMA a jornada culinária e a vivência na cidade ao longo destes anos. Dell’Aquila não esconde o fascínio pela cozinha asiática e pela “fusão única” de sabores portugueses e chineses na comida macaense.


“Macau tornou-se famoso pelos casinos e isso chamou-me a atenção. Vim para Macau porque queria saber como é trabalhar na cidade dos casinos”, esclarece.
Há 16 anos que cozinha na Ásia. Esteve na Tailândia, Indonésia e no Japão. Viajar e trabalhar na Ásia não só aumentou os conhecimentos sobre diferentes tipos de comida, como também foi aqui, neste continente, que conheceu a mulher.


Hoje a comida preferida é a japonesa e o objetivo é um dia voltar a trabalhar no Japão. País a que chegou em 2000 com outro colega italiano para um evento como chef convidado e foi assim que se apaixonou por Tóquio e pela comida japonesa.


“A minha mulher é japonesa e casámos no Japão, por isso o país será sempre a casa e um lugar querido para a minha família e para mim”, reforça.


Apesar de a comida japonesa ser a favorita, Dell’Aquila admite que ainda mantém a essência italiana nos pratos que confeciona. Ainda usa o “estilo da mãe” para cozinhar. Acredita que esse estilo o faz cozinhar “com paixão” porque é uma pequena lembrança da origem e do amor que tem pela comida.


“A minha primeira experiência na cozinha foi com a minha mãe. Ela ensinou-me, pacientemente, a fazer sobremesas, a fazer bolos e a utilizar as ferramentas da cozinha”, lembra.


Quando era mais novo diz que adorava doces e gostava muito de fazer sobremesas. À medida que cresceu, tornou-se mais curioso sobre os salgados. Esta relação com a comida caseira foi uma grande influência para a carreira culinária, diz, convicto.


Para Dell’Aquila, o segredo para se tornar um bom chef é a experiência, a flexibilidade e a paixão. Diz acreditar que todas as experiências negativas e positivas “ensinam lições valiosas”.


“O mais importante num restaurante é a comida e para a comida ser incrível temos de trabalhar muito, e em equipa. O trabalho na cozinha é cheio de desafios. O chef coordena tudo e tem de encontrar soluções para os problemas que surgem”, explica.


Dell’Aquila revela que, como qualquer trabalho, é preciso lidar com muitos desafios enquanto chef a trabalhar em Macau. Um deles é a adaptação aos colegas de trabalho e a mentalidade e cultura dos clientes. Esclarece que há uma dezena de nacionalidades entre os funcionários no The Manor e por isso têm que colocar as diferenças de lado e trabalhar para preparar pratos de boa qualidade.


O principal objetivo de um chef é estabelecer uma relação amigável com os clientes e manter um bom humor na cozinha. A cozinha é um lugar de muita pressão e trabalho duro. Todos os dias trabalham para criar pratos inovadores. “Têm de ser criativos, experimentar novas especiarias, misturar ingredientes e brincar um pouco com os sabores para obter a melhor reação dos clientes”, atira.


“Já trabalhei com muitos chefs em Itália que eram autoritários e gritavam com os funcionários, mas não me comporto assim. Para o trabalho fluir suavemente, devemos estar de bom humor na cozinha”, defende.


Acredita que a boa comida é o produto de um chef e de uma equipa que trabalham duro e respeitosamente. O lema é: “mantê-lo simples, mantê-lo agradável, grande produto”.
No geral, estar na cidade tem sido uma boa oportunidade para a carreira e descreve-a como “uma bênção” para os filhos que têm a oportunidade de crescer numa cidade diversificada como Macau. O chef sente-se apreciado e valorizado. Diz que sente a admiração dos clientes locais e sente-se motivado todos os dias para melhor servir os clientes.


“Macau é tão pequeno e toda a gente se conhece. Muitos dos clientes que conheço foram leais comigo e com os restaurantes em que cozinhei”, afirma, com um sorriso.
Termina, deixando um alerta. Há muitas pessoas no mundo a quem falta comida e, por isso, os restaurantes têm um papel importante a desempenhar na redução do desperdício de alimentos.


“O chef também tem essa responsabilidade em formar cozinheiros sensibilizados para a redução de resíduos”, enfatiza.
Para Dell’Aquila, os chefs também devem estar atentos ao meio ambiente e evitar o desperdício de alimentos e deve encorajar aqueles com quem trabalha para reutilizar e desperdiçar menos.

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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