Uso obrigatório de máscara, distanciamento físico e um rigoroso controlo sanitário fizeram hoje parte da retoma dos voos domésticos em Cabo Verde, quase quatro meses após a suspensão
No aeroporto internacional Nelson Mandela, na Praia, quem chega para viajar tem de esperar na fila no exterior e guardar uma distância de pelo menos 1,5 metros.
“É gratificante poder ir visitar a minha família”, disse à agência Lusa Reginaldo Cruz, para quem o controlo sanitário à entrada do aeroporto “está a funcionar”. Mas não gostou do controlo na Delegacia de Saúde para obter a declaração de teste rápido negativo à covid-19.
“Falta de organização, muita aglomeração de pessoas para fazer e receber os testes, é complicado”, descreveu o passageiro, indicando que conseguiu fazer o teste e obter a declaração em dois dias e depois de cinco horas numa fila.
À entrada do aeroporto, o passageiro passa por um rigoroso controlo sanitário, que começa com a apresentação de uma declaração de teste negativo para o novo coronavírus feito com uma antecedência mínima de 72 horas. O teste é exigido apenas aos passageiros dos voos com saída da Praia e do Sal, os dois principais focos de covid-19 no arquipélago de Cabo Verde.
Segue-se depois a medição de temperatura por parte de técnicos da Delegacia de Saúde e preenchimento de um termo de responsabilidade para a viagem.
Foi por tudo isto que passou Reginaldo Cruz, na Praia há nove meses, os dois últimos em isolamento, que ia apanhar o voo para São Vicente, a sua ilha natal.
“Mesmo assim tive de apelar a alguém que trabalha lá dentro para dar-me o resultado, senão não estaria aqui hoje a viajar”, salientou.
Suleila Cardoso é professora do ensino básico na ilha do Sal e fez escala na cidade da Praia para seguir viagem num voo para São Vicente, de onde é natural.
Também passou pelo controlo sanitário. Constatou que em ambos os aeroportos há distanciamento, todas as pessoas usam máscaras e há álcool gel disponível para os passageiros.
“Os aeroportos estão muito bem organizados, têm distanciamento social à vontade, não ficamos uns em cima dos outros, nos aviões é a mesma coisa”, avaliou Suleila Cardoso.
De referir que os voos são feitos pela Transportes Interilhas de Cabo Verde (TICV), ex-Binter, a única companhia aérea que opera as ligações domésticas em Cabo Verde.
Em declarações à Lusa no aeroporto da Praia, o diretor-geral da TICV, Luís Quinta, disse que nos últimos meses a companhia fez mais de 70 voos de evacuação, mas que foram “três longos meses” sem fazer voos comerciais.
“Tivemos sempre no ativo, felizmente, foram três longos meses, e estamos muito felizes por voltar, finalmente, a retoma dos voos regulares”, afirmou o responsável.
No entanto, o diretor-geral lamentou o atraso de cerca de uma hora registado nos dois primeiros voos Praia–Sal e Sal-Praia, porque alguns passageiros ainda não tinham as declarações preenchidas.
O voo da tarde para São Nicolau também deveria ser cancelado, por causa da chuva nessa ilha, mantendo-se a primeira ligação para São Vicente, embora também se admitisse poder atrasar-se.
“Isto era tudo expectável, foram três longos meses. Estas paragens para recomeçar são um bocadinho exigentes, mas isto era expectável e nos próximos dias esses pormenores vão ser melhorados e em dois ou três dias já não contamos com atrasos significativos”, perspetivou.
Para Luís Quinta, os atrasos podem ser minimizados porque as declarações já podem ser preenchidas ‘online’, o que vai facilitar a chegada e entrada no aeroporto.
No primeiro dia de retoma, a TICV realiza três voos, transportando cerca de 280 passageiros, segundo o diretor. Espera-se que as ligações aéreas continuam “por muitos e bons tempos” e em segurança.
Mas para a melhoria das atividades, Luís Quinta disse ser “extremamente importante” a retoma também dos voos internacionais, previstos para agosto.