
O impacto socioeconómico que a pandemia do novo coronavírus está a causar será certamente objeto de estudo futuro, por vários anos. A criatividade e inovação que o momento exige, não é certamente para meninos.
É certo que Macau tem os recursos financeiros, e isso pode descansar-nos um pouco, mas qual será o tempo real da retoma económica e o seu verdadeiro impacto na sociedade e na economia? Alguém arrisca responder?
Muitas questões se levantam. Em particular, se Macau tem o know-how necessário para fazer face às circunstâncias. Tenho sido surpreendida com algumas das medidas tomadas… mas serão elas demasiado populistas e menos estruturais?
Com tantas incógnitas resta-nos esperar que se minimizem os erros – insustentáveis. E esperar que não se “atire apenas dinheiro para o problema”, na esperança de que este se resolva sozinho; nem se gastem recursos com os amigos desnecessitados; ou na “caça às bruxas” de oportunistas agenciados.
É fundamental encontrar mecanismos de apoio social – e não apenas de caridade social. A caridade é importante para fazer face a problemas urgentes, como é o caso, mas tem de ser de curto prazo; porque não abrange os mecanismos necessários de sustentabilidade social. Como diz ditado chinês, “não dês o peixe, ensina a pescar”.
Muito se fala de apoio às pequenas e médias empresas; corremos o risco de transformar a problemática numa questão menor, de subsidiodependência.
Alguns empresários tomam decisões difíceis, de encerrar os negócios, ou redimensioná-los, ajustando a sua atividade. Estas decisões, complicadas, tantas vezes adiadas, são normalmente solitárias e promovem condições de riscos diversos, que devem ser acauteladas e acompanhadas. A pressão e a falta de apoio limita a capacidade de ação e de decisão, contribuindo para erros desnecessários.
O apoio financeiro às PME´s é importante, mas é igualmente decisivo que os empresários não se sintam sozinhos e abandonados na resolução do seu problema. É talvez altura de criar um novo modelo de negócio, uma espécie de “hospital económico”, para as PME´s da Sociedade de Risco. Quiçá, à semelhança das incubadoras das start-ups, chamar-lhe Restart-Ups.
A ideia é apoiar as entidades e empresas em dificuldades com apoios e subsídios em modelos próximos ao das star-ups, com apoio não só financeiro, mas complementar. A par do financiamento, é fundamental o apoio de gestão, formação e/ou jurídico. É fundamental um reforço das necessidades de apoio socioeconómicos, apoio moral e sociopsicológico, pois a condição de vulnerabilidade assim o exige.
Os empresários das PMEs, os fazedores de ideias, criadores de negócios, não devem ser abandonados sob pena de se perder uma classe que oferece diversidade económica e emprego a muitas famílias. E terá um potencial importante na retoma económica.
Pode estar-se perante uma oportunidade de, finalmente, abraçar a responsabilidade social, arregaçar as mangas, sair do drama e do medo, e investir na retoma económica e no bem-estar social.
O mundo faz-se das pequenas coisas. E esta pandemia vem exatamente mostrar isso, como um micro-organismo pode mudar o mundo.