A Associação Novo Macau condenou hoje a decisão das autoridades do território de cancelarem uma exposição sobre o movimento democrático chinês que resultou no massacre de Tiananmen, afirmando que esta foi tomada por razões políticas.
“A “Exposição Fotográfica do Movimento de Democratização de 1989”, aprovada originalmente, tornou-se repentinamente “não alinhada com os padrões relevantes”, o que impossibilitou a Associação de Desenvolvimento da Democracia de Macau de apresentar a exposição que faz há 30 anos”, apontou em comunicado a Associação Novo Macau.
A associação pró-democracia mostrou-se “chocada com a ação do IAM [Instituto para os Assuntos Municipais]” e considerou que foi “obviamente baseada em razões políticas”.
O Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) de Macau revogou, na semana passada, a permissão da realização da “Exposição Fotográfica do Movimento de Democratização de 1989”, alegando medidas de prevenção face à Covid-19.
As autoridades do território, segundo a associação, estão a utilizar “meios administrativos para suprimir a liberdade de expressão e minimizar o espaço para a sociedade civil”, naquilo que consideram “uma tentativa de esconder os ideais do movimento democrático patriótico e os crimes históricos da sangrenta repressão do regime na época”.
A associação “também adverte outros departamentos governamentais para não continuarem a suprimir nenhuma atividade relacionada, especialmente a vigília de 04 de junho, que também tem 30 anos de história”.
Em 1989, em Pequim, o exército chinês avançou com tanques para dispersar protestos pacíficos liderados por estudantes, causando um número de mortos nunca oficialmente assumido. Algumas estimativas apontam para milhares de mortos.
“Macau é um dos poucos lugares na China que ainda pode falar abertamente sobre o incidente de 04 de junho. Mas o preço da liberdade é a vigilância eterna”, sublinhou a associação.
Macau e Hong Kong são os dois únicos locais da China onde Tiananmen pode ser publicamente recordado e nas duas cidades realizam-se anualmente vigílias para lembrar as vítimas do massacre.
Na segunda-feira, um dos responsáveis pela organização da vigília que assinala em Macau o massacre de Tiananmen, disse à Lusa temer que o evento seja proibido, na sequência do cancelamento da exposição sobre o mesmo tema.
O deputado Au Kam San, em declarações enviadas à Lusa, afirmou que o Governo Central nunca concordou com a realização deste evento, que se realiza todos os anos em Macau, e que o IAM “pode reformular o seu regulamento para bani-lo”, utilizando como pretexto as medidas de prevenção face à covid-19.
Macau cumpriu na segunda-feira 33 dias consecutivos sem novos casos confirmados da Covid-19, sendo que do total de 45 infetados desde que o surto começou apenas três continuam em tratamento.
Se o IAM não aprovar a vigília, a organização vai pedir à polícia o direito a reunião e, se esta não concordar, os organizadores “insistirão em sentar-se, pois não há regulamentação para que um cidadão não possa sentar-se numa área pública”, sublinhou Au Kam San.