“É claro que muitas mais medidas vão ser necessárias para além da iniciativa do G20 de congelar os pagamentos da dívida bilateral e pedir ao setor privado para se juntar, sem ações duras é certo que haverá uma onda de incumprimentos financeiros dos [países] soberanos entre os mercados emergentes”, escreveu Brian Capler num artigo de opinião publicado no ‘site’ da The Banker, intitulado “Salvar África é do próprio interesse do mundo”.
“Esta é uma altura em que os governos e as agências multilaterais precisam de forçar o setor privado a juntar-se a uma ação coletiva sobre o alívio da dívida, a mensagem é clara: se os privados não cumprirem, as suas perdas serão maiores a longo prazo”, acrescentou o diretor da revista dirigida ao mundo da alta finança.
A covid-19, provocada pelo novo coronavírus, argumentou o diretor da revista, “não é a única crise que requer uma resposta global, com desafios como as alterações climáticas e a migração ilegal, um falhanço na resolução destes problemas nos mercados emergentes, e particularmente em África, significa que estes problemas não podem ser resolvidos adequadamente”.
A diferença é que “enquanto a covid-19 existir em qualquer sítio, vai inevitavelmente conseguir encontrar o caminho de volta para os países que estão agora a lidar com a primeira vaga e entregar um segundo surto”, disse Brian Capler, concluindo que “é imperativo que seja encontrada uma solução para África e para os mercados emergentes”.
O texto de opinião de Capler junta-se a um conjunto de artigos de analistas e de responsáveis das instituições financeiras multilaterais que defendem um alívio das finanças públicas dos países africanos, que não têm margem nas contas públicas para pagarem a dívida e, ao mesmo tempo, investirem nos sistemas de saúde para conter a pandemia da covid-19.
Na semana passada, a consultora McKinsey estimou que os empregos e rendimentos de 150 milhões de pessoas podem estar em risco devido às medidas de isolamento social no continente, e a Comissão Económica para África das Nações Unidas admitiu que o número de mortes possa chegar às 300 mil.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) antecipou uma recessão de 1,6% na África Subsaariana, o maior crescimento negativo desde, pelo menos, os anos de 1970.
A nível global, segundo um balanço da AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 170 mil mortos e infetou quase 2,5 milhões de pessoas em 193 países e territórios.
O número de mortes provocadas pela covid-19 em África subiu para 1.158, com mais de 23 mil casos registados da doença em 52 países, segundo as estatísticas mais recentes sobre a pandemia naquele continente.
O “Grande Confinamento” levou o FMI a fazer previsões sem precedentes nos seus quase 75 anos: a economia mundial poderá cair 03% em 2020, arrastada por uma contração de 5,9% nos Estados Unidos da América, de 7,5% na zona euro e de 5,2% no Japão.