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Quarentena na China preveniu 700 mil casos de coronavírus até fevereiro

A China, ao implementar quarentena estrita na cidade de Wuhan, em 23 de janeiro deste ano, além de em outras cidades do entorno, e outras medidas restritivas com maior ou menor restrição quanto ao isolamento social em demais regiões do país, preveniu 700 mil casos de infeção pelo novo coronavírus até fevereiro, segundo o ministro-conselheiro da Embaixada da China no Brasil, Qu Yuhui. Ele conversou com jornalistas por meio de uma conferência online na tarde desta sexta-feira sobre a experiência chinesa de combate à doença e sobre a importância da relação sino-brasileira.

O diplomata destacou o esforço, a responsabilidade e o sacrifício da população chinesa para controlar a doença no país. No dia 8 de abril, Wuhan, primeiro epicentro da COVID-19, voltou a abrir as redes de transporte, e a maior parte das empresas e dos trabalhadores já retomaram as atividades. Qu destacou que ainda não há o que celebrar, e não haverá o fim da epidemia até que o último país vença a doença, independentemente de quantos países adotem medidas adequadas ou não. Segundo ele, ainda não é tempo para relaxar.

Para o ministro-conselheiro, China e Brasil têm muito a cooperar, e a tarefa primordial no momento é o combate à COVID-19, mas a concertação em relação a políticas macroeconômicas e em áreas de comércio e investimento são fundamentais, especialmente no período posterior à pandemia. “Nossas economias são muito complementares, temos necessidades cotidianas e estratégicas para fomentar a cooperação. É importante acrescentar tijolos a esta construção, em vez de retirar os alicerces deste edifício, ou mesmo danificá-lo”, comparou Qu.

“Respeitamos muito a política externa do Brasil, que tem sido sempre voltada ao equilíbrio, à diversidade e à independência, e esperamos que isso continue. Vamos sempre tratar o Brasil como parceiro estratégico e um país amigo”, afirmou o diplomata.

ATAQUES RACISTAS PREOCUPAM

Ataques racistas que têm a China ou os chineses como alvos preocupam, diz o ministro-conselheiro. Segundo ele, ainda que o primeiro surto do novo coronavírus tenha sido registado na China, a origem do vírus ainda é pesquisada. Para além disso, lembra o diplomata, tanto a comunidade internacional quanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) se opõem à associação de um vírus a determinado país ou região, a fim de evitar politização ou estigmatização.

No Brasil, afirma Qu, ainda que haja ataques xenófobos dirigidos à China, especialmente nas redes sociais, ele acredita que esta opinião não representa a maioria da população brasileira. Sobre declarações racistas vindas de integrantes do governo e da política, como caso do ministro da Educação brasileiro, Abraham Weintraub, o diplomata acredita que esta não é hora de declarações irresponsáveis, mas que o relacionamento sino-brasileiro é de longo prazo, construído há gerações e hoje sólido e maduro.

“Não só agora, mas no futuro, a parceria sino-brasileira continuará importante para ambos os países. Lamentamos muito que pessoas não queiram cooperar neste contexto atual. Nós não vamos deixar de trabalhar, e preservaremos as conquistas já alcançadas, além de contra-atacarmos as teorias da conspiração”, disse Qu em relação à postura chinesa.

O ministro-conselheiro lembrou que a China respeita o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, que conversou por telefone há três semanas com o presidente chinês, Xi Jinping. Segundo ele, houve concordância em diversos aspetos, inclusive em realizar esforços conjuntos no combate à COVID-19. “Acreditamos que esta é a posição oficial do governo brasileiro”, afirmou Qu.

AJUDA CHINESA NO EXTERIOR

Qu destaca que todos os países devem se unir numa batalha a um inimigo comum, a COVID-19. Neste momento, informa o diplomata, o governo chinês está prestando auxílio a 127 países e a quatro organizações internacionais, doando ou vendendo equipamentos de proteção pessoal, kits para testes e equipamentos, como respiradores.

Hoje, informou o diplomata, 70 nações e entidades negociam a compra de suprimentos hospitalares com a China. Quando se pensa em respiradores, a China é responsável pela produção de um a cada cinco deste tipo de equipamento no mundo. Os respiradores mais sofisticados, conhecidos como invasivos, são produzidos por apenas 21 companhias na China que, em média, podem fazer mil aparelhos por mês, cada. No entanto, estas dependem de peças vindas do exterior, especialmente da União Europeia que, assim como os EUA, proibiu exportações destes equipamentos e de seus suprimentos.

“Há um problema nas cadeias globais de valor, no suprimento de insumos. O governo chinês tem apoiado o desenvolvimento de peças nacionais para utilização nos respiradores, mas leva tempo. Além disso, a mão de obra utilizada para constituir estes respiradores também é especializada, e não há muitos profissionais capacitados”, explicou Qu, que afirmou que as encomendas de novos respiradores estão sendo recebidas para entrega apenas em outubro. Ele garantiu que não há preferência por compradores, e que os negócios são feitos diretamente com empresas privadas. O governo chinês, no entanto, oferece uma listagem de fornecedores que, além de serem idóneos, obedecem a padrões de diferentes países na fabricação dos equipamentos. A Embaixada no Brasil está auxiliando tanto o Ministério da Saúde quanto os governos estaduais do Brasil em relação a fornecedores e distribuidores idóneos e pode auxiliar em alguns casos em que surjam entraves burocráticos em temas como logística e transporte.

Até agora, 13 equipes médicas chinesas já viajaram a 11 países para prestar aconselhamento a médicos locais. Por meio de videoconferência, outras 70 equipes se reuniram com profissionais de saúde de 150 países ou organizações internacionais, quatro destas com o Brasil. O país sul-americano também recebeu doações ou irá receber suprimentos hospitalares de 15 empresas chinesas. Há 10 províncias ou municípios da China que já enviaram ou estão preparando doações para seus estados ou municípios brasileiros irmãos.

A EXPERIÊNCIA CHINESA COM A QUARENTENA

“Estamos perante uma doença muito perigosa e desconhecida. Talvez só conheçamos 10% sobre a COVID-19, e nesta circunstância, cuidado nunca é demais”, disse Qu. Segundo ele, a quarentena iniciada em Wuhan garantiu que a China e o mundo ganhasse tempo para estudar a pandemia, tornando-a uma ferramenta essencial. “Nossa lição é de que é possível compatibilizar o controle da doença e o desenvolvimento socio-económico”, acredita o ministro-conselheiro.

Para ele, o governo tem um papel imprescindível no processo, garantindo medidas abrangentes e sistemáticas que garantam implementação de controle da doença e giro da economia. Da população, é preciso “respeito e um maior senso de disciplina. Não adianta que 90% da população faça quarentena, se 10% não fizer, anula os esforços dos demais”, diz o diplomata.

Ele destacou que a China ainda está cautelosa em relação a medicamentos para a cura da COVID-19, e o único consenso é de que não há um único medicamento que tenha sido comprovado seguro ou eficiente. Em relação a vacinas, EUA e China lideram pesquisas na área. “A China já começou a fazer testes em seres humanos há três semanas, mas não se sabe quando vai estar pronta. Leva de um ano a um ano e meio para que uma vacina seja lançada no mercado. Além de esforços nacionais, há muitos esforços de pesquisa conjunta nesta área, incluindo China e EUA”, contou o diplomata.

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