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A fazer contas ao vazio

As receitas do jogo em Macau caíram para zero com a implementação de novas restrições em Guangdong. Com os despedimentos limitados pelo receio de afetar uma eventual renovação das licenças de jogo em 2022, as operadoras estão a negociar para evitar falências técnicas. 

Funcionários e ‘croupiers’ circulam, limpando e desinfetando as mesas, agora mais afastadas umas das outras para reduzir o risco de contágio por coronavírus. À entrada dos espaços de jogo, a obrigação de todos se sujeitarem a uma medição da temperatura. Mas, uma semana após a introdução de novas restrições, jogadores nos casinos de Macau, nem vê-los. 

As operadoras tinham continuado a ter “uma receita mínima” disse ao PLATAFORMA Ben Lee. Isto graças a jogadores vindos do continente, usando vistos individuais ou de negócios emitidos antes da suspensão, ou de Hong Kong, explica o sócio-gerente da consultora IGamiX Management e Consulting Ltd IGamiX. 

A situação foi de mal a pior na semana passada. Na terça-feira, o governo de Macau impôs uma quarentena de 14 dias a qualquer pessoa vinda de Hong Kong. Na sexta-feira foi a vez da província vizinha de Guangdong anunciar que qualquer pessoa – incluindo residentes locais – vinda de Macau e Hong Kong teria de submeter-se a quarentena. 

“A receita dos casinos muito provavelmente caiu para zero”, diz Ben Lee (ver caixa). Segundo dados oficiais, 45,9 por cento dos visitantes que chegaram a Macau em 2019 vieram de Guangdong. 

Desde sexta-feira, “tem havido períodos em que não registámos quaisquer apostas”, confirma ao PLATAFORMA o executivo de uma empresa que opera um casino em Macau, que pediu anonimato por não ter autorização para falar à imprensa. 

QUARTOS ÀS MOSCAS
Os hotéis de Macau já tinham visto a taxa de ocupação média cair a pique. Na semana passada os hotéis da Wynn tiveram uma ocupação de apenas 20 por cento, adianta ao PLATAFORMA um funcionário do setor hoteleiro, que pediu anonimato por não ter autorização para falar à imprensa. “E só vai piorar”, acrescenta. 

“As poucas reservas que havia foram todas canceladas na sexta-feira”, assim que foram anunciadas as novas restrições impostas por Guangdong, indica Ben Lee. Assim, as operadoras dos grandes empreendimentos “parecem teimosas” por não aceitarem albergar nos seus hotéis os milhares de pessoas que estão a regressar a Macau e têm de cumprir duas semanas de quarentena. 

A primeira a dar este passo foi a Sands China, que no sábado disponibilizou metade dos 4 mil quartos do hotel Sheraton Grand Macao, no Cotai. 

A compensação oferecida pelo Governo “é sempre melhor que nada; isto sem contar com o facto de ser uma verdadeira contribuição para os esforços comunitários” no combate à segunda vaga de casos de coronavírus, considera Ben Lee. “Como diz bem o Governo, não chega doar umas poucas máscaras”, acrescenta o veterano da indústria do jogo. 

CORTES E DÍVIDAS
As operadoras de jogo têm tentado reduzir os custos, oferecendo aos trabalhadores locais licenças com metade do vencimento, diz o funcionário do setor hoteleiro. “Não sei qual tem sido o nível do interesse” nesta proposta, acrescenta Ben Lee. 

Só não tem havido despedimentos entre os locais, admite o executivo da operadora de casinos, porque as empresas têm receio do impacto que isso possa ter numa eventual renovação das licenças de jogo, que terminam em 2022. 

Admite que menos sorte tiveram os trabalhadores não-residentes. Segundo dados oficiais, as empresas de Macau dispensaram nos primeiros meses deste ano mais de 5.100 funcionários não-residentes, sendo que quase 700 trabalhavam em restaurantes e hotéis. 

Uma solução que poderia “fazer uma grande diferença”, sugere Ben Lee, é a redução de salários por parte dos executivos de topo das concessionárias de jogo. A medida já foi tomada pelo Genting, grupo que gere casinos na Malásia e em Singapura, e pela Suncity, a mais importante intermediária no setor do jogo VIP em Macau. 

Ben Lee acredita que empresas como a Galaxy Entertainment e a Sociedade de Jogos de Macau (SJM) vão escapar à crise. Pelo contrário, as operadoras “em maior risco de cair numa depressão prolongada” são aquelas com maior dívida, diz o analista. 

O sócio-gerente avisa que as empresas terão de continuar a pagar empréstimos que, em muitos casos, incluem critérios ligados às receitas. Precisamente para evitar a falência técnica, na semana passada a Sands China conseguiu negociar mudanças aos critérios de um empréstimo, algo que a MGM China também pediu junto dos credores. 

NOS ESTADOS UNIDOS… WINN E SANDS TÊM RESERVAS PARA MAIS DE UM ANO
O analista Chad Beynon, da financeira australiana Macquarie, estima que os grupos norte-americanos Wynn Resorts e Las Vegas Sands – forte presença no jogo em Macau – têm dinheiro para enfrentar a pandemia 15 a 20 meses. Estimativa feita na sequência do encerramento por 30 dias de todas as operadoras em (Las Vegas), por ordem do governador do Nevada, Steve Sisolak. Macquarie avisa que o COVID-19 é um duro teste às reservas de caixa das principais empresas de jogo norte-americanas. 

JOGO DÁ TRAMBOLHÃO EM MARÇO
As receitas do jogo em Macau caíram 79,7 por cento em março, face a igual mês de 2019. As fronteiras da capital mundial do jogo estiveram quase integralmente fechadas durante esse período para conter o surto da covid-19. 

Dados da Direção de Inspeção e Coordenação de Jogos (DICJ) indicam ainda uma quebra de 60 por cento no primeiro trimestre do ano. Fevereiro tinha registado perdas históricas nas receitas, devido ao encerramento dos casinos por 15 dias.

Em março de 2019 as operadoras arrecadaram 25,84 mil milhões de patacas. Este ano a receita bruta no mesmo mês ficou-se pelos 5,25 mil milhões de patacas. 

No trimestre, o montante global gerado foi de 30,48 mil milhões de patacas, menos 45,66 mil milhões de patacas do registado nos três primeiros meses de 2019. Os casinos de Macau fecharam 2019 com receitas de 292,46 mil milhões de patacas.  

VÍTOR QUINTà03.04.2020

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