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Médicos focados nas pessoas Vacina vai ter de esperar

A China parece ter tomado a dianteira. Já decorrem en­saios clínicos de uma vaci­na contra a COVID-19 em huma­nos. Na Europa, a alemã CureVac fala em testes, mas só em junho ou julho. Já a norte-americana Moderna diz estar também a testar em voluntários. Canadá e Israel também estão na corrida à vacina. Médicos ouvidos pelo PLATAFORMA têm esperança, mas prevêem que o caminho será longo.

Para a médica de Macau Mónica Pon, há duas “armas determinantes” na “guerra ao vírus”: tempo e cura. “Luta-se contra o tempo na descoberta de medicação para o tratamento da COVID-19, sendo que a hidroxicloroquina (um antimaláti­co) e o Resemivir (usado no Ébola) têm-se revelado eficazes. Ao mesmo tempo trabalha-se na investigação de uma vacina que permita imunizar o maior número de pessoas, cerceando a propa­gação a doença”, explica a especialista em Medicina Interna.

Há poucas dúvidas de que “a descoberta de uma vacina e a respetiva disponibili­dade levaria habitualmente vários anos a ser concretizada”, considerando que, apesar de “a descodificação da sequên­cia genética do SARS-COV2“ ter sido realizada com “uma celeridade sem precedentes”, os passos que se seguem “exigem tempo”, enfatiza Monica Pun. “Pior do que um vírus mau, seria uma má vacina”, conclui em resposta ao PLA­TAFORMA.

A médica lembra que “especialistas na matéria consideraram que, na melhor das hipóteses, uma vacina só estaria pronta daqui a um ano”, lembrando que a China já iniciou “um ensaio clínico com 108 voluntários”.

“O mundo aguarda com expectativa. As dificuldades não se esgotam na des­coberta da vacina”, avisa Mónica Pon, citando uma declaração do médico Mi­chael J Ryan da OMS: “A acessibilidade à vacina tem que ser Universal; o mun­do não estará protegido enquanto todos não estiverem protegidos”.

Já para a médica virologista brasileira Marilda Siqueira a solução imediata passa por uma “ordem clara de reclusão social”. A chefe do Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, lem­bra em resposta ao PLATAFORMA que na América do Sul os profissionais de saúde estão habituados a várias epide­mias: “Não podemos comparar com o Covid-19, mas vírus como Zika e Chi­kungunya dão-nos alguns ensinamen­tos, aqui no Brasil”.

Por isso, salienta, conhece “vários co­legas que foram a Itália ajudar” porque estão “preparados para este tipo de epi­demias”. Para a especialista, a guerra pela vacina está longe de ser a priori­dade. “Ela vai chegar, mas até lá temos de salvar pessoas e isso passa pelo iso­lamento social. É preciso ser claro nesta mensagem”, remata.

Já Mário Freitas, médico e delegado de saúde pública em Braga, Portugal, tem uma certeza: “Teremos muitas mais pandemias pela frente”. Por isso, a decisão certa, agora, é “testar, testar, isolar, isolar”.

O clínico assegura ao PLATAFORMA que não espera “por notícias de vacinas”, antes focando-se naquilo que classifica como um teste “fulcral à sociedade… É um apelo à nossa disciplina”. Quebrar a cadeia de transmissão é “a obrigação maior de todos: pessoas, governos, pro­fissionais de saúde, cientistas…”, defende.

“Vivemos num planeta com 7,5 biliões de seres humanos e, portanto, temos 7,5 biliões de potenciais reservatórios. Em qualquer um de nós o vírus pode fazer a mudança que o torna altamente con­tagioso -e descambar noutra pandemia”, alerta o médico, terminando com uma previsão: “Há um mundo antes e depois do 11 de Setembro; como há um mundo antes e outro depois do Covid-19. Não tenho qualquer dúvida nisso”.

Luís Bernardino, professor jubilado da Faculdade de Medicina da Universidade Agostinho Neto, considera que “o grande progresso tecnológico cria expetativas no controlo de grandes calamidades, mas também desperta enormes ansie­dades – às vezes até atitudes e medidas ‘de pânico’ – na população e em muitos profissionais”.

“Não aceitamos tantas mortes e tomam-se medidas que vão perturbar o ritmo frenético do desenvolvimento. Talvez seja bom…”, desabafa o médico angola­no, em declarações ao PLATAFORMA.

Bernardino admite que a preocupação é crescente. À semelhança do restante continente africano, Angola é muito vul­nerável: “Pela fraqueza do sistema de Saúde na deteção e contenção do vírus”. Acredita, todavia, que estes territórios sejam poupados a uma catástrofe, devido “às temperaturas nas áreas tropicais, que não são favoráveis à progressão do vírus”.

CORRIDA LANÇADA

O anúncio espalhou-se rapidamente no passado fim-de semana: investigadores liderados pela epidemiologista Chen Wei, da Academia de Ciências Médicas Militares chinesa, recebeu luz-verde para avançar com ensaios clínicos em humanos de uma vacina contra a Co­vid-19. Wei foi a primeira a submeter-se ao teste, segundo avançou a televisão estatal CCTV.

Nas palavras da Major-general, também membro da Academia de Engenharia Chinesa, a potencial vacina foi desenvol­vida seguindo “padrões internacionais e regulamentos nacionais”, garantindo que a produção será “segura, eficaz, de qualidade controlada e em massa”.

Segundo diário britânico The Guardian há nesta altura 35 empresas e institui­ções académicas a testarem uma possí­vel vacina contra a Covid-19.

Aguardemos…até lá continuamos re­féns do vírus, de medidas de exceção, e da frente médica na luta para salvar vidas.

 

António Bilrero, Fernanda Mira e Gonçalo Lopes 27.03.2020

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