Início Opinião Interpretando as grandes mudanças do século (2)

Interpretando as grandes mudanças do século (2)

As principais razões que levam a que a liderança chinesa considere o atual contexto internacional como algo sem precedentes neste último século são as seguintes: os EUA mudaram, a relação entre a China e os EUA mudou, e a globalização e a administração mundial também mudaram. O presidente norte-americano Donald Trump, um tipo de líder que só surge de 100 em 100 anos, assumiu um papel muito importante nestas mudanças. O “efeito Trump” é uma variável que afeta largamente as relações sino-americanas. A singularidade de Trump pode ser analisada de três perspetivas: personalidade, características da administração que lidera e ao ambiente governamental. 

Em termos da personalidade, tem quatro grandes características. Primeiramente, Trump é o primeiro homem de negócios a tornar-se presidente dos EUA. Não só está a fazer história no país como a exercer influência a nível nacional e internacional. Em segundo lugar, a experiência de Trump influencia a forma única de governar, ignorante e manipuladora, que por sua vez também afeta assuntos internos e externos dos EUA. Em terceiro lugar, sendo obcecado com a ostentação, atenção e cobertura mediáticas, disse à equipa antes de se mudar para a Casa Branca para tratar cada dia no Governo como um episódio de um reality show televisivo. Em quarto lugar, como um dos mais bem-sucedidos homens de negócio americanos, Trump foi também resonsável de várias lendas da área de negócios. Para Trump tudo é um “negócio” ou “transação”, como podemos ver pelas palavras que usa nos discursos. 

Em relação às características da administração, a originalidade de Trump está também refletida na forma como reúne várias características de políticas de relações externas de presidentes americanos do século XX. As políticas dos anteriores presidentes apresentaram três grandes características: desistência, ostentação e unilateralismo. E até ao momento, Trump tem combinado todas elas e desenvolvido um estilo característico. 

Devido a estes fatores, as atuais mudanças e instabilidade das relações sino-americanas são ainda difíceis de compreender. Ao longo da última década os jogos estratégicos entre os dois países já passaram por três fases: a fase em que a China começou a chegar ao nível americano em 2008; a fase em que os EUA atacaram e a China se defendeu, entre 2009 e 2013, quando em 2009, sobre o pretexto de “mudança”, os EUA liderados por Obama tentaram desenvolver novas relações com a China, resultando posteriormente em apenas mais uma ronda de tentativas de conter o país aproveitando os conflitos com o Japão, a crise na península coreana e as disputas de território no mar do Sul da China; Por fim a fase entre 2014 e 2016 em que a China atacou e os EUA se defenderam. Nesta fase, para evitar um conflito direto com os EUA no Leste Asiático, a China alterou a estratégia para uma mais marítima e ocidental. Foi nesta altura que a China começou a dar luta, e a relação com os EUA se começou a deteriorar. Com o impacto da guerra comercial entre os dois países, a relação foi também afetada. Este ano marca o 40º aniversário da criação de laços diplomáticos entre a China e os EUA, e este é o período mais complicado desde 1979. Esta é apenas uma perspetiva da situação, ampliando o lado negativo. A China e os EUA são dois países gigantes com uma história, cultura, valores, ideologias e sistemas sociais diferentes. Neste contexto de mudança atual, os laços sino-americanos precisam ainda de ser desenvolvidos e guiados numa atmosfera de cooperação. Tendo em conta os 40 anos de história desta relação, houve já situações mais graves e perigosas. A relação entre estes dois países é extremamente importante, ambos os lados precisam de ser racionais e inteligentes. Mesmo que os EUA ajam imprudentemente, a China não pode perder o foco estratégico. Os laços entre a China e os EUA são vitais para a paz mundial e o desenvolvimento humano, por isso o mundo necessita de uma relação estável entre os dois países. 

David Chan 22.11.2019

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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