Início Opinião Poeira étnica

Poeira étnica

A comunidade portuguesa – e boa parte da elite chinesa – lamenta a “não renovação” dos contratos de Paulo Cardinal e Paulo Taipa, os juristas mais qualificados e influentes da Assembleia ao longo de muitos e muitos anos. Engana-se quem vê aqui um saneamento étnico. A questão é bem mais profunda. A elite chinesa reclama para si os postos estratégicos e bem pagos. Mas em cima da mesa está sobretudo um futuro próximo que afasta mentes livres e fiéis ao Segundo Sistema. Fossem eles tailandeses, ou chineses, e seriam corridos à mesma. Fixem as suas mais-valias: direitos, liberdades, garantias… e jogo.

A agenda securitária segue em roda livre. O amanhã não cantará de madrugada; aliás, o silêncio ameaça a luz do dia. A cultura de liberdade não é mania portuguesa. Está no ADN de Macau, na base da visão de Deng Xiaoping. Ninguém contesta a legitimidade dos novos governantes nem o regresso à Mãe Pátria. Contudo, no respeito pela Lei e pela liberdade, que servem Macau, as suas gentes e a própria China. 

Paulo Cardinal não serve a agenda em curso.

E Paulo Taipa? Vai de arrasto, só para disfarçar? Não! Há outra cereja no topo do bolo: a revisão das concessões e da Lei do Jogo, onde está o poder fático e mão na massa do próximo ciclo político. Também aqui, quem sabe da poda sabe demais.  

Percebe-se que quem executa o plano escolha quem o sirva – e não quem o contrarie. O afastamento deste perfil ético e profissional indica que o poder está nas mãos de quem não os quer. Não se entende é porque raio a China vê essa necessidade de minar a imagem das suas regiões autónomas. O ciclo político que se avizinha percebe mal a questão. 

Manda quem pode e lamenta quem, em consciência, defende o melhor para Macau e as suas gentes. Cá estaremos, uns e outros, em franca discordância. Mas haja respeito mútuo. Ao Cardinal e ao Taipa, a terra deve-lhes esse respeito, como a todos os outros, seja qual for a cor e o credo. Porque defenderam a terra, a nós e a eles próprios, ao fazer o que fizeram, o melhor que puderam. Mesmo quando, por trás da poeira, já nem sequer os deixavam. 

Paulo Rego 21.09.2018

Contate-nos

Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

Plataforma Studio

Newsletter

Subscreva a Newsletter Plataforma para se manter a par de tudo!