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Empresas locais procuram soluções europeias

O IPIM levou negócios do Grande Delta a Portugal e Alemanha. As empresas de Macau querem importar capacidade para lidar com problemas ambientais cada vez mais acentuados.

A gestão de resíduos numa cidade que produz mil toneladas de lixo por dia, o controlo de emissões poluentes, e a diversificação das fontes de produção de energia perante a quase total satisfação das necessidades locais com recurso à importação de eletricidade estão entre os principais desafios que se colocam na gestão ambiental de Macau – e às empresas da região. Portugal e Alemanha foram, na passada semana, terreno de investigação para as indústrias ambientais de Macau, que procuram, sobretudo, novas soluções tecnológicas para adotar em casa.

Mais de 60 empresários e representantes de instituições da área ambiental de Macau, Hong Kong e das nove províncias que compõem o chamado Grande Delta do Rio das Pérolas, no sul da China, terminaram na passada sexta-feira uma visita aos dois países europeus durante a qual estiveram em contacto com agências de proteção ambiental, associações comerciais, e empresas com atividades que vão desde o tratamento de água à descontaminação de solos. A visita foi organizada pelo Instituto de Promoção do Comércio e Investimento de Macau (IPIM) e Direção dos Serviços de Proteção Ambiental (DSPA).

“Foi uma visita dedicada à proteção ambiental com a qual conseguimos lançar muitas sementes para futuros contactos. Visitámos as empresas, tivemos contacto com as associações de proteção ambiental”, disse ao PLATAFORMA Jackson Chang, presidente do IPIM, na passada sexta-feira. “São os primeiros contactos”, juntou. 

Esta é, no entanto, já a segunda visita organizada pela IPIM com o mesmo âmbito, depois de em 2017 uma delegação de empresários das províncias do sul da China e das duas regiões administrativas especiais chinesas ter estado já em Portugal e também no Brasil, mantendo contactos com empresas e agências ambientais destes países. Jackson Chang diz que não está ainda decidido se a iniciativa vai manter a regularidade anual. 

Entre os empresários de Macau na delegação, alguns dos quais já com parcerias na Europa, não há muito interesse em aproveitar a experiência destas visitas para apostar em novos mercados de atuação. Pelo contrário, reconhecem insuficiências no mercado de Macau, que é preciso colmatar – em alguns casos, com soluções importadas.

Tecnologia, subsídios e espaço

A CSR – Companhia Sistema de Resíduos, responsável pela recolha e gestão do lixo de Macau, e a eNovation, uma companhia com micro-operações de produção de energia fotovoltaica em edifícios da cidade são exemplo de parcerias já estabelecidas. A CSR é participada pelo grupo multinacional Swire e pela H. Nolasco, e a eNovation, com uma história mais recente em Macau, iniciou atividade em 2013 já com recurso à capacidade de uma empresa alemã, a G-Tech.

“Portugal é muito ‘verde’, há uma forte consciência quanto a questões relacionadas com a sustentabilidade. As nossas empresas em Macau estão atrás dessas mesmas oportunidades na área da sustentabilidade. Queremos detetar boas tecnologias e soluções para levar connosco”, disse Sam Liu, diretor executivo da eNovation. 

A empresa é responsável pela instalação e gestão de painéis fotovoltaicos nas coberturas de hotéis e casinos da região. A energia é adquirida pela Companhia de Eletricidade de Macau (CEM) em contratos que se podem estender até 20 anos, e com tarifas subvencionadas de entre 4,3 e 4,8 patacas por quilowatt-hora, consoante a dimensão dos edifícios. 

A política de incentivo – também iniciada em países como Portugal e entretanto abandonada para novas unidades de produção de renováveis – tem tido adesão limitada, mas suficiente para a eNovation. “Devido aos incentivos criados pelo Governo, diria que é um negócio que vale a pena fazer em Macau. Percebemos que noutras regiões talvez não seja tão lucrativo, mas em Macau é bom”, disse.

Também a CSR, concessionária responsável pela recolha do lixo de Macau, fala em procurar soluções com viabilidade para o principal problema que a empresa enfrenta: excesso de resíduos e meios ineficazes, e recuados, para o tratar.

“Macau é um local muito pequeno, mas produzimos mais de mil toneladas de lixo por dia. Não temos indústria em Macau, a maior parte é lixo orgânico, e na sua maioria proveniente das cozinhas. Servimos mais de 30 milhões de visitantes e temos uma população de mais de 650 mil indivíduos. Na minha análise, mais de 50 por cento dos resíduos são orgânicos. Hoje em dia usamos uma tecnologia linear. Os resíduos são produzidos e queimamo-los, não os retornamos numa economia circular”, descreveu Morse Lei, diretor executivo, sobre o sistema de gestão de resíduos da cidade.

Para o empresário, é necessário avançar em três frentes: separação, organização e minimização dos resíduos. “Podemos fazer mais com um sistema de reciclagem como o europeu. O sistema de pagamento pelo consumo de plástico, por exemplo, não o temos em Macau. O Governo subsidia tudo em Macau. É uma boa altura para vir aqui e aprender com a experiência de uma gestão de resíduos integrada”, disse.

O diretor da CSR reconhece também a limitação de terrenos disponíveis para aterros de resíduos indústrias de Macau como um dos principais problemas – dificilmente solucionável pela importação de tecnologias, sendo que a exportação dos lixos tem sido a estratégia adotada até há pouco tempo.

“No passado, o Governo contava com a possibilidade de exportar resíduos de boa qualidade para a China [continental], mas no ano passado Macau passou a ter jurisdição sobre as águas envolventes. Creio que algo possa mudar agora”, disse, reconhecendo que é preciso “fazer algo”.

A CSR quer esperar para ver. “Estamos a ponderar avançar com algum tipo de proposta estratégica ao Governo, mas não creio que seja o melhor momento. É preciso dar espaço ao Governo para planear a própria estratégia, que implica consulta, design, para fazer o que é certo no tempo certo”, disse Morse Lei. 

Maria Caetano  23.03.2018

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