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Hegemonia do MpD e segunda derrota do PAICV

Cabo Verde vai a votos no próximo dia 04 de setembro pela segunda de três vezes este ano, desta feita para as eleições autárquicas, onde 57 candidatos disputam a presidência das 22 câmaras municipais.

Depois de ganhar as legislativas, as autárquicas podem reforçar ainda mais a hegemonia do poder do MpD, maior partido autárquico cabo-verdiano, que apoia ainda Jorge Carlos Fonseca, candidato melhor posicionado para vencer as eleições presidenciais de 02 de outubro.

As autárquicas são, por isso, cruciais para o PAICV que, se vier a ser derrotado, ficará numa situação muito complicada, já que não tem candidato presidencial. Analistas dizem, por isso, que a líder do partido, Janira Hopffer Almada, não terá condições para continuar no cargo.

Nestas autárquicas, apenas o partido no poder, Movimento para a Democracia (MpD), concorre em todos os 22 municípios, enquanto o maior partido na oposição, Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), vai disputar a liderança em 21 concelhos e apoia um independente na ilha do Maio.

No MpD, de onde na capital cabo-verdiana saiu em janeiro último o atual primeiro-ministro, o destaque vai para a candidatura de Óscar Santos, que substituiu Ulisses Correia e Silva, líder do partido, quando este saiu para liderar o Executivo. O partido no poder quer voltar a vencer as autárquicas, como tem acontecido desde a realização das primeiras eleições no país, em 1991.

 No PAICV, liderado por Janira Hopffer Almada e que traçou como objetivo manter as atuais oito câmaras e “ganhar mais outras”, destaque para a candidatura de três ex-ministros do anterior Governo: Cristina Fontes Lima (Praia), Démis Lobo Almeida (Sal) e Leonesa Fortes (Ribeira Grande de Santo Antão).

O outro partido com assento parlamentar que entra na corrida é a União Cabo-verdiana Independente e Democrática (UCID, terceiro partido no país), cujo líder António Monteiro concorre pela quarta vez em São Vicente, a segunda maior ilha do país em termos de população e onde o partido tem dois vereadores na Câmara. O partido disputa ainda a presidência das câmaras da Praia, Maio, Sal e Ribeira Grande e Paul (Santo Antão).

Na corrida autárquica entram também os partidos sem assento parlamentar. Desses, apenas o Partido Popular (PP), o mais recente no país (foi criado no ano passado), concorre em dois municípios (Praia e Calheta de São Miguel), enquanto o Partido do Trabalho e da Solidariedade (PTS) concorre na Praia e o Partido Social Democrata (PSD) entra na corrida no Sal.

Há ainda mais quatro candidaturas independentes, todas saídas de dentro dos dois maiores partidos. Uma delas é liderada por Luís Pires, em São Filipe (Fogo), que avançou porque o PAICV, que o apoiou há quatro anos, decidiu voltar a depositar a confiança em Eugénio Veiga, que tinha sido preterido em 2012.

Na Boavista, o deputado José Luís Santos também avançou como independente, após não merecer apoio do MpD, que suporta José Pinto Almeida. Há ainda candidaturas independentes de Pedro Centeio, nos Mosteiros (Fogo), e de Pedro Morais, na Ribeira Brava (São Nicolau).

As autárquicas dão seguimento às eleições este ano em Cabo Verde, depois das legislativas e das presidenciais. A campanha autárquica prossegue até o dia 02 de setembro, dois dias antes da eleição, que será também para as Assembleias Municipais.

Estas serão as sétimas eleições municipais no país em 25 anos, depois de 1991, 1996, 2000, 2004, 2008 e 2012. Nas primeiras autárquicas, o país tinha 14 municípios, que aumentou para 16 nas segundas, 17 nas terceiras e quartas e 22 nas quintas, que se mantém até agora.

Os municípios desempenham um papel importante na vida do país, tendo responsabilidades na administração dos bens municipais, elaboração e aprovação de planos de desenvolvimento local, prestação de serviços públicos, intervenção ao nível do saneamento básico, saúde, habitação social, transportes, educação, promoção social, cultura, desporto, comércio e proteção civil.

Quase 320 mil eleitores inscritos. Poucos estrangeiros

Segundo dados da Direção Geral de Apoio ao Processo Eleitoral (DGAPE), as autárquicas contam com 319.242 eleitores inscritos, mais 16.475 novos votantes em relação às legislativas. Do total, apenas 2.414 são estrangeiros, número que segundo a presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE), Maria do Rosário, está “aquém das expetativas”, tendo em conta a grande comunidade estrangeira residente no país.

A presidente da CNE disse que isso poderá dever-se a vários fatores, como a integração dos estrangeiros e a sua participação na vida política do país e também com a obtenção de documentos de residência, um dos requisitos para os cidadãos estrangeiros participarem nas autárquicas.

Maria do Rosário recordou que a CNE realizou várias ações de sensibilização nos últimos tempos para motivar a participação dos eleitores, esperando que esta seja maior do que a nas legislativas. Nas últimas autárquicas a taxa de abstenção foi de 31%.

MpD continuará como maior partido autárquico – analista 

Segundo o analista político cabo-verdiano João de Deus Carvalho, o MpD vai ganhar as eleições e continuar a ser o maior partido autárquico do país. “O que ainda não se sabe é qual será a dimensão da vitória, mas o MpD corre sérios riscos de reforçar a maioria”, perspetivou.

Quanto ao PAICV, o analista disse que, depois das legislativas, vai perder as autárquicas e a presidente terá que tirar as consequências. “Quem conduz um partido a duas derrotas consecutivas deve entender que não tem condições para liderar o partido”, afirmou, lembrando que nas presidenciais de 02 de outubro próximo, o PAICV não tem candidato oficial e que tudo indica que Jorge Carlos Fonseca será reeleito, com apoio do MpD.

João de Deus analisou ainda as principais disputas, com destaque para a Praia, o maior município e capital do país, onde prognosticou uma vitória de Óscar Santos (MpD), apesar de elogiar a candidatura da ex-ministra Cristina Fontes Lima (PAICV).

“A Cristina Fontes Lima até que é uma boa candidata, uma pessoa capaz, que prestou relevantes serviços ao país, mas só que ela aparece agora na contramão, a candidatar-se contra uma câmara que tem trabalho feito e que todo o mundo reconhece. A câmara da Praia é a que melhor trabalha a nível do país”, explicou.

Em São Vicente, o analista disse que a UCID poderá protagonizar uma surpresa. “O melhor que a UCID pode alcançar é um bom resultado em São Vicente, que tem conseguido historicamente, porque é ali que está o embrião e o coração do partido, mas fora da ilha já enfrenta dificuldades, porque não tem uma base financeira que sustenta a organização política”, justificou.

Em São Filipe (Fogo), João de Deus disse que qualquer que seja os resultados, não serão bons para o concelho, uma vez que vai haver uma partilha de poder entre três partes, as duas alas do PAICV e o MpD, o que vai complicar a gestão da câmara e prejudicar a população. O mesmo, considerou, poderá acontecer na ilha da Boavista, mas com duas alas do MpD e o PAICV.

Quanto aos independentes e aos partidos pequenos, João de Deus disse que não conseguem ser melhor alternativas a nível autárquico, explicando que uma das razões é o facto de o sistema político cabo-verdiano ser concebido para dois partidos.

“O MpD e o PAICV conluiaram-se e criaram um sistema onde só dois sobrevivem. Enquanto não se mudar a lei dos partidos políticos e reformar o financiamento dos partidos não haverá uma terceira via em Cabo Verde porque é lutar com armas desiguais”, analisou.

Ricardino Pedro

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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