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Jogos maravilhosos na Cidade Maravilhosa

Terminaram os 17 dias das Olimpíadas do Rio. Durante um discurso, o presidente do Comité Olímpico Internacional, Thomas Bach, elogiou a extraordinária organização deste evento por parte do Brasil. Comentando e avaliando os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, o presidente disse: “Estes foram Jogos maravilhosos na Cidade Maravilhosa.” Bach não se ficou apenas por expressões como “razoáveis”, “bem organizados” ou “muito bem organizados” ao descrever os Jogos Olímpicos do Rio.

É verdade, estas olimpíadas foram efetivamente maravilhosas. Tornaram-se, mesmo antes da sua abertura, num assunto extremamente debatido, e continuam a sê-lo após o seu encerramento. Isto aconteceu sobretudo com as notícias adversas em volta das olimpíadas, como a agitação política antes da abertura, o agravamento das condições de segurança pública ou o vírus Zika a afetar todo o continente americano. Durante a duração dos Jogos Olímpicos, estas questões estiveram sempre à superfície. Michel Temer, presidente interino do Brasil, foi vaiado durante o seu discurso na cerimónia de abertura, devido ao facto de o seu cargo ser considerado o fruto de um “golpe de estado” que causou a suspensão de Dilma Rousseff, e o presidente não esteve presente na cerimónia de encerramento. Os problemas de segurança pública levaram também a polícia do Rio de Janeiro à exaustão, não só devido aos assaltos mas também devido a incidentes de tiroteio, que felizmente não feriram os representantes da China. Para além disso, tiveram também as falsas alegações por parte de dois nadadores americanos de terem sido assaltados à mão armada. As investigações, porém, revelaram que o incidente não tinha ocorrido como descrito. Ryan Lochte, membro da equipa norte-americana de natação, admitiu ter exagerado o episódio que foi provocado por um conflito com agentes de segurança pública devido a estragos causados numa casa de banho pública, e de seguida pediu desculpas à polícia do Rio de Janeiro.

Durante o período das olimpíadas, não ocorreu nenhum surto do vírus Zika de maior gravidade, o que constitui o maior motivo de celebração para as autoridades brasileiras. Contudo, o caso da revenda de bilhetes olímpicos por parte do presidente do Comité Olímpico Irlandês ficou marcado como uma das grandes “maravilhas” em termos de escândalos nesta edição dos Jogos Olímpicos.

As várias instalações olímpicas também constituem uma série de sucessivas maravilhas. Embora elas tenham sido construídas de forma apressada, não ocorreram situações de instalações instáveis. Contudo, situações como a água das piscinas que mudou de azul para verde ou o uso de uma versão incorreta da bandeira chinesa obrigaram o comité olímpico a fazer vários pedidos de desculpa. Estes incidentes, embora tenham deixado as equipas insatisfeitas, não foram causa de grandes transtornos. Porém, a arrogância e linguagem insultuosa e agressiva dos atletas ocidentais em relação aos atletas de países de terceiro mundo é causa para frustração e consternação. Este tipo de situação surgiu sobretudo em questões de imparcialidade por parte dos juízes. Nos 400 metros estafetas femininos, a equipa norte-americana deixou cair o bastão, mas, surpreendentemente, as atletas receberam um tratamento preferencial que lhes permitiu repetir a corrida “sozinhas”. É a primeira vez que isto acontece nos últimos 124 anos de olimpíadas. Nas 30 edições anteriores dos Jogos Olímpicos modernos, deixar cair o bastão sempre foi razão de desqualificação nas corridas de estafetas, não sendo os resultados dos atletas considerados no final. Porém, desta vez, a arbitragem decidiu prestar uma ajuda à equipa norte-americana, deixando as atletas repetir a corrida numa espécie de “treino público” e aceitando o seu resultado, permitindo-lhes competir nas finais e vencer a medalha de ouro. A habilidade da equipa feminina norte-americana nos 400 metros estafetas é inegável, mas o que está em causa é a decisão de permitir uma “segunda tentativa” após a queda do bastão. Outro exemplo ocorreu com um atleta iraniano de halterofilismo, quando, durante o arremesso, três dos juízes assinalaram a ação como válida através de luzes, mas posteriormente exigiram uma repetição. Se o atleta em questão não fosse iraniano e fosse de um país ocidental ou anglo-americano, receberia ele este tipo de tratamento? Surgiu também uma situação de parcialidade durante uma das competições de luta livre, e não é de admirar que os treinadores da Mongólia tenham despido as roupas em plena arena, ficando apenas de cuecas, como forma de protesto contra a decisão injusta.

O espírito olímpico não deve distinguir entre raças, religiões e nacionalidades de atletas numa competição segundo regras imparciais e altruístas. Contudo, nesta edição dos Jogos Olímpicos, desde maravilhas nas instalações de natação, no içar de bandeiras, até maravilhas nas competições e arbitragens, tudo leva a crer que o espírito olímpico se desvaneceu. Terminaram as olimpíadas do Rio, e tudo foram maravilhas tortas.

DAVID Chan

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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