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Será Blair um criminoso de guerra?

O Reino Unido tornou público no dia 6 de julho o relatório de 7 anos sobre a guerra no Iraque. Este relatório foi efetuado pelo “Comité do Inquérito do Iraque”, organizado pelo governo britânico. O relatório contém 2,6 milhões de palavras cujo conteúdo inclui as decisões, bases legais, processos e planos relativos à guerra no Iraque, abrangendo o período entre o verão de 2001 e os finais de julho de 2009. O inquérito aponta: “A afirmação de que o Iraque possuía armas de destruição maciça foi mal fundamentada, os organismos de informação forneceram informações incorretas ou exageradas”.

O presidente do comité do inquérito, Sir John Chilcot, afirmou que o envolvimento britânico na guerra do Iraque foi uma decisão com base em informações incorretas e que subestimou a gravidade das consequências da guerra. O relatório aponta que o então primeiro-ministro britânico, Tony Blair, possui uma responsabilidade incontornável em relação a esta guerra, tendo criado uma sensação de ameaça iminente em todo o mundo após afirmar que o Iraque possuía uma grande quantidade de armas químicas. Contudo, como se veio a revelar, ninguém foi capaz de encontrar no Iraque as tais armas de destruição maciça.

Chilcot afirmou: “O comité do inquérito foi unânime: a operação militar no Iraque seria possivelmente necessária algures no futuro, mas não o era de forma alguma a março de 2003, pois nessa altura o regime de Saddam não constituía uma ameaça imediata para o mundo. A estratégia de contenção poderia ter continuado por mais algum tempo.” A maioria dos países do Conselho de Segurança da ONU defendia uma continuação da inspeção e monitorização no Iraque.

Quanto às razões dos Estados Unidos e do Reino Unido para iniciar uma invasão no Iraque: Os EUA cobiçavam os recursos petrolíferos do Iraque e não se conformavam com o facto de o regime de Saddam apenas vender petróleo para países como a França, Rússia e China, assim como o facto de querer usar o euro em vez do dólar nas trocas petrolíferas. O Reino Unido, por outro lado, desejava criar uma “relação especial” com os Estados Unidos, tendo o relatório divulgado uma nota de Blair para George W. Bush dizendo “Estou contigo, aconteça o que acontecer”. Todas se tratavam de razões do interesse americano ou britânico, tendo já na altura recebido críticas da sociedade internacional. O comentador político macaense Can Jimfaa referiu anteriormente: O presidente norte-americano George W. Bush e o primeiro-ministro britânico Tony Blair, pelo despoletar da invasão e guerra no Iraque, talvez sejam levados perante o tribunal internacional de crimes de guerra. José Manuel Diogo, um autor deste jornal, também referiu no seu artigo “A Redenção do Jornalismo” que a indústria jornalística não fez a devida verificação dos factos sobre as armas de destruição maciça do Iraque, levando o jornalismo a ser “arrastado na lama da segunda invasão do Iraque” depois de 2001. Embora José Manuel Diogo apenas refira a reputação negativa gerada pela ausência de verificação dos factos no relato de alguns incidentes pela indústria jornalística, sem atribuir à indústria a responsabilidade por este incidente, podemos apreender a incerteza relativa às armas de destruição maciça do Iraque.

A divulgação do Inquérito do Iraque provocou uma reavaliação desta guerra por parte da comunidade internacional, suscitando críticas mais uma vez, principalmente devido ao facto de a guerra ter criado no país um estado de divisão, guerra civil e terrorismo, sendo os fugitivos da guerra no Iraque uma fonte de novos conflitos no Médio Oriente. Isto levou a comunidade internacional a culpar os Estados Unidos e o Reino Unido pelo despoletar da guerra, incluindo o novo presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, que disse: “Não existiu base legal para os Estados Unidos declararem guerra com o Iraque. Os Estados Unidos destruíram o Médio Oriente e devem assumir a responsabilidade pelos ataques terroristas que ocorrem no seu país.”

Quanto aos conteúdos do inquérito, Blair declarou que assumirá a sua responsabilidade, e Chilcot também explicou que o relatório não se trata um julgamento ou audiência judicial. Mas para as famílias dos mais de 150.000 soldados e cidadãos iraquianos mortos na guerra do Iraque, assim como os mais de 4.000 soldados norte-americanos e quase 200 soldados britânicos, Tony Blair é um criminoso de guerra. Se George W. Bush é o principal culpado, Blair é, no mínimo, um cúmplice.  

DAVID Chan

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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