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Costa guia uma vaca em chamas

Já aqui escrevi que Costa é politicamente um Sócrates “revisto e aumentado”. Porque Sócrates estava sozinho, e delirava sozinho, enquanto Costa tem a preciosa ajuda das alucinadas do Bloco e do anti-europeísmo militante do PC. Também possui uma lata mais sofisticada e eficaz que a do seu antecessor. Como diz o povo, quem não tem vergonha todo o mundo é seu. O presidente da República classificou isto, num sorriso afectuoso, de “optimismo irritante”. Depois ambos, Marcelo e Costa, vieram disfarçar com uma “história” antiga de quando o primeiro era professor do segundo e lhe terá conferido a melhor nota, aquela que o aluno optimista tinha jurado arrancar a Marcelo. Talvez o aluno se exprimisse, então, melhor em português do que agora. É claro que não era propriamente a uma peripécia universitária que Marcelo aludia. Há um mundo que vagueia na cabeça do dr. Costa – e na maioria dos seus epígonos governamentais – que é de todo desconhecido do comum dos mortais. Não foi, aliás, por acaso que, no evento “Simplex reciclado”, retirado do poeirento baú dos coloridos espectáculos socráticos, o primeiro-ministro ofereceu à pobre senhora da Presidência uma marioneta em forma de vaca voadora. A “doutrina” está resumida no brinquedo: carrega-se num botão, o boneco agita as asinhas, sorrindo, e voa às mãos do dono. Enquanto se observa o voo da vaquinha não se fala no persistente fracasso do “modelo” económico-financeiro gizado pelas Esquerdas. E cujo desenho, tosco, consta do PEC e do Plano de Reformas, duas perigosas falácias que, ao contrário da marioneta, manifestamente não voam. Di-lo a insuspeita Teodora Cardoso, os insuspeitos bonzos da concertação social, a balança comercial, o emprego, o crescimento e até o glorioso consumo interno onde muitos, inconscientes e embasbacados pelo voo da vaca, já não conseguem solver débitos directos. O financiamento do Estado, como salientou a presidente do Conselho de Finanças Públicas, também não está assegurado embora o Governo não pare de prometer “injecções” de capital aqui e ali, isto é, dinheiro dos contribuintes. Assistimos, afinal, ao que A. Finkielkraut chama de triunfo do ridículo sobre o pensamento. O que nos versos bem portugueses de Pedro Ayres Magalhães se canta assim: “Soltaram uma vaca em chamas/Com um homem a guiar/São voltas/Ai, amor, são voltas/São as voltas/São as voltas da maralha/Ai, são voltas/Ai, amor, são voltas/São as voltas da canalha”.

‭ ‬João gonçalves

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