Sendo o Fórum Macau uma plataforma, “caberá igualmente aos fazedores e aos agentes da cultura elevar essa plataforma ao mais alto nível possível”, afirma o embaixador angolano em Pequim, uma das mais altas figuras presentes na Semana Cultural. João Garcia Bires, ele próprio amante escritor de poesia, entende que, para além das trocas económicas e comerciais, faz todo o sentido promover as valências culturais entre a China e os países de língua portuguesa: “Para além de ser um simples elo de ligação, é na verdade a mais sólida ponte entre os homens dos mais variados cantos do nosso Universo.
Plataforma – Qual é a importância política e diplomática que se pode atribuir à Semana Cultural em Macau, que já vai na sua sétima edição?
João Garcia Bires – A maior importância que se deve dar é o facto de, embora falando a mesma língua, temos raízes culturais diferentes. No primeiro instante, a troca cultural nos faz sentir membros de uma só família, que é a família humana. No segundo, há valências que só convivendo e combinando vontades damos vida à cultura que, ao fim e ao cabo, é uma das essências da vida humana.
– Qual é este ano a estratégia que Angola traz para este evento!
J.G.B. – Como em qualquer canto do mundo, há aspectos culturais que ainda não são totalmente conhecidos e explorados por outros povos, nações e homens de cultura. A nossa missão é levar avante o programa de mostrar a diversidade e as manifestaçoes culturais que fazem parte da nossa forma de ser, de estar e de pensar.
A semana cultural que o Fórum Macau desde há algum tempo vem organizando é uma das maiores tribunas – ou passarelas – para que possamos apresentar em cada festival ‘um cheirinho’ do enorme e multiforme mosaico cultural do nosso país.
– Qual é a imagem que o seu país gostaria de fazer vingar, aproveitando a visibilidade deste evento e a presence de vários “irmãos” lusófonos?
J.G.B. – Antes de mais, a imagem da paz e da reconciliação. Como sabe, no mundo atual, todas as vontades, vozes e os esforços dos governantes e dos cidadãos vão para a garantia da paz, para a fortificação da harmonia, do amor e da solidariedade entre os povos e as nações. Nós bem queríamos que esta singela imagem, mas que representa uma profunda mensagem transformada em arte, fosse acolhida por todos os seres amantes da cultura.
– De que forma esta semana cultural defende e projeta os objetivos mais vastos do Fórum Macau!
J.G.B. – Sendo o Fórum Macau uma plataforma, caberá igualmente aos fazedores e aos agentes da cultura elevar essa ‘plataforma’ ao mais alto nível possível. Se conseguirmos, será pôr mais uma pedra na consolidação dos princípios que levaram os dirigentes chineses a criarem o Fórum Macau; pois, como vamos assistindo, que ele não se limita somente nas relações económicas e comerciais.
A presença neste palco, no decurso desta Semana Cultural, de tido aquilo que são as mais diversas formas e maneiras de representar a alma dos povos representados neste evento, mostrando aquilo que podem e sabem fazer, é uma das demonstrações do que são os objetivos do Fórum Macau.
– Sendo a agenda do Fórum Macau essencialmente económica e comercial, qual é o papel que as trocas culturais podem desempenhar também para esse desígnio?
J.G.B. – O homem é portador de sentimentos e de expressões próprias da sua cultura, da sua História e, quiçá, do meio em que vive, ainda que seja provisoriamente. No caso vertente do Fórum Macau, e porque existe uma agenda comum onde os integrantes têm os mesmos direitos e deveres, a cultura, para além de ser um simples elo de ligação, é na verdade a mais sólida ponte entre os homens dos mais variados cantos do nosso Universo.
– Serão as indústrias culturais, também elas, uma oportunidade de negócios em si mesmas entre a China e os países de língua portuguesa?
J.G.B. – Essas indústrias são igualmente uma excelente e genuína oportunidade para a troca de experiências, de partilhas e de técnicas, de convívios e de coabitação entre as pessoas.
– Este ano são aliás integrados encontros empresariais com este sentido. Parece-lhe ser essa a estratégia correcta?
J.G.B. – Para lhe ser franco, já há muito que se fazia sentir essa necessidade.
– Ou é sobretudo importante que as trocas culturais e o conhecimento mútuo possa potenciar melhores relações económicas e comerciais?
J.G.B. – Este aspeto também é válido, mas não é tão importante. As relações comerciais têm um cariz diferente daquele que molda as relações culturais. O que se pretende é nos possamos conhecer melhor, para podermos assim atingir um objetivo comum: o de criar e criar, como dizia o maior poeta e pai da nacionalidade angolana: criar com os olhos secos.
– Ouve-se falar de alguma tensão em Angola entre a população angolana e a imigração chinesa. As trocas culturais podem ajudar a que essa integração seja feita com mais conhecimento comum?
J.G.B. – Não existe nehuma tensão entre a comunidade chinesa e os cidadãos angolanos. Se hoje nós os angolanos nos orgulhamos por tudo que foi feito em menos de quinze anos, foi graças à cooperação chinesa e, logicamente, a presença dos cidadãos da República Popular da China e a comunidade chinesa está bem integrada no nosso país e ela é bem-vinda. O que existe, e as entidades competentes têm sabido lidar com isso, são pequenos desentendimento, exatamente fruto da diferença cultural, linguística, dos hábitos e dos costumes. Não há nada contra uma determinada comunidade.
– Tal como em Macau, a diversificação económica faz hoje em dia parte das prioridades estratégicas angolanas. Qual é a importância que as indústrias criativas podem eventualmente ter na prossecução desse desígnio?
J.G.B. – Pacificado o país, podemos desde já pensar nas indústrias criativas. Porém, hoje e de imediato temos outras prioridades urgentes. Um acordo para redinamização e reestruturação das indústrias criativas no seu todo com a República Popular da China na qualidade de parceiro estratégico de Angola seria uma mais valia.
– O Fórum Macau parece nesta altura apostar em na multiplicação das suas actividades, mas também na qualificação da comunicação. Como interpreta essa nova energia de ambição; senão ainda real, pelo menos na forma como nos é transmitida?
J.G.B. – Entendo como uma inequívoca demonstração de robustez e de vitalidade do seu plano de acção.
– Apesar do arranque lento, será que o conceito de plataforma em Macau pode ganhar novo ritmo e ambição!
J.G.B. – Pode. O exemplo imediato está na participaçao da província de Jiangsu nos trabalhos como parceira do Fórum, com o seu Programa para o Desenvolvimento Comercial e Industrial dos Países de Língua Portuguesa. Esse facto, per si, já demonstra o ritmo e a marca do Fórum Macau.
16 DE OUTUBRO 2015