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Nervosismo no ar

A detenção de Donald Tsang, antigo chefe do Executivo de Hong Kong, levanta um nervoso miudinho nas duas regiões administrativas especiais; ou seja, também em Macau, onde a forma como decorreu o julgamento do ex-secretário para as Obras Públicas parecia ter selado o combate à corrupção. Afinal, a condenação de Ao Man Long pode não ter enterrado a questão. A verdade é que, por cá, ninguém sabe muito bem o que se passa. Estando longe do poder central, as elites do “segundo sistema” têm menos instrumentos para compreender a real extensão e os limites da campanha anticorrupção.

No Continente multiplicam-se os “troféus”; do mais básico funcionário público aos mais altos cargos políticos e militares. A dúvida que se põe é também de percepção política, pois à luz do “primeiro sistema” a separação de poderes não existe; pelo menos, da forma como ela é entendida nas democracias ocidentais. A tese até agora reinante era a de que Pequim não exporia em demasia as fragilidades das regiões administrativas especiais. Por um lado, protegendo esse regime de exceção, muitas vezes atacado pela ala mais tradicional do PC; por outro, provando a Taiwan a sua eficiência e legitimidade; por fim, projetando em todo o mundo uma imagem de boa governação nas autonomias, depois de integradas na Mãe Pátria. Segundo esta tese, o combate à corrupção em Macau e Hong Kong contaria com uma certa complacência. Mas a detenção de Donald Tsang deita por terra essa convicção.

Outra hipótese agora se levanta: perante um quadro de corrupção generalizada, em toda a China, a liderança de Xi Jinping não estará disposta a quaisquer contemplações. Aliás, poderá até estar interessada em forçar a nota do combate à corrupção junto das autoridades investigatórias e policiais das regiões administrativas especiais. Mostrar que não há perdão pode ser uma nova atitude política para com o “segundo sistema”. Defende-o, em termos conceptuais, embora fragilizando as elites locais, expostas a um escrutínio que assusta muita gente. Se essa tese vingar, a tensão vai aumentar.

Paulo Rego

9 de Outubro 2015

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