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“Entre um e dois anos vamos ver um reequilíbrio da economia”

O novo vice-presidente de operações do grupo Accor no sul da China, e director-geral do Sofitel Macau, acredita que a desaceleração económica é temporária e a retoma farse-á sentir nos próximos dois anos. Goran Aleks diz que é preciso diversificar e trazer novos visitantes. No Sofitel, a taxa de ocupação caiu ligeiramente abaixo dos 90%, mas não haverá grandes mudanças. É tempo de acalmar e apostar nos detalhes.

Quais são os planos para o Sofitel Macau?

Goran Aleks Em primeiro lugar, tudo começou com o Le Chinois, o nosso restaurante chinês, reestruturado no ano passado. Em segundo lugar, o Mistral está a atravessar uma pequena remodelação – vamos oferecer uma experiência diferente, com um toque mais europeu. Não podemos competir com um grande buffet, como o do Galaxy Macau – nem queremos, preferimos uma oferta feita à medida dos nossos clientes, com experiências únicas. No Privé – área reservada com mais de 20 lugares – temos um novo chefe, que trabalhou em vários restaurantes com estrelas Michelin, muito comunicativo. Quanto ao So Spa, vamos continuar a ter uma experiência única nas massagens. Temos um novo director do So Spa.

Não haverá propriamente uma expansão, mas sim uma renovação do que já existe no Sofitel Macau?

G.A – Para o Le Chinois, haverá uma total mudança do menu. Para o Mistral, haverá uma grande mudança: estrutura, ofertas e aspecto serão totalmente diferentes. Não haverá renovações dos quartos; normalmente pegamos num quarto, deixamolo fora de operação durante cinco dias e transformamo-lo. Como estamos com uma taxa de ocupação de pouco menos de 95%, vamos utilizar este período de desaceleração para melhorar os quartos e garantir que estão atualizados.

A economia em Macau passa por um mau momento. De que forma isso reflecte no negócio?

G.A – O nosso hotel não está muito dependente do jogo, para nós será apenas 10%. Uma queda das receitas corresponde a uma descida ligeira da taxa de ocupação. O nosso hotel tem um casino muito pequeno e a razão prende-se com a nossa localização. Situamonos numa área sem casinos, mas a uma distância curta do Leal Senado. Temos clientes diferentes, agora estamos a apostar na nossa competividade, por estarmos situados no sítio certo e termos clientes diferentes.

Os hotéis projetados para o COTAI afectam o vosso negócio?

G.A – Não temos concorrentes aqui. Somos o único hotel de origem francesa, somos um hotel europeu com características únicas. Os nossos clientes gostam destas coisas que nos fazem diferentes. Todos os outros hotéis oferecem coisas semelhantes, mas no geral aqui é o sorriso, as saudações em francês, os pequenos toques, os produtos da Hermès nos quartos… É romântico.

Qual é o perfil tipo dos vosso hóspedes?

G.A – Temos mercados diferentes da Coreia, de Taiwan e da Europa. O mercado coreano teve uma queda, mas continuamos a ver um ligeiro aumento. Se dependessemos só de Hong Kong e do mercado da China Continental, teríamos tido quedas muito maiores.

A crise ainda pode vir a afetar mais o negócio?

G.A – Entrevistámos os directores-gerais da região a perguntar o sentimento em relação à situação que se vive. E o relatório que temos diz que o ambiente é positivo. Para nós, o primeiro trimestre foi muito difícil; o segundo estagnou; o terceiro e quarto estão a melhorar, o que é muito positivo para nós. Em toda a China, temos três regiões que não têm tido qualquer progresso – Sanya (devido à capacidade do aeroporto e ao excesso de oferta de quartos), Hong Kong e Macau. Mas, pela primeira vez, Macau está a recuperar – o primeiro trimestre foi doloroso, o segundo foi ok e no terceiro e quarto as perspetivas são mais positivas. Falei com os responsáveis pelo casino que prvêem um aumento de 16/17% [no terceiro e quarto trimestres]

Refere-se ao mercado de massas?

G.A – Pois…A grande diferença é que os jogadores VIP estão a escolher destinos como Manila, nas Filipinas. Mas, no geral, o sentimento é positivo, para o Segundo semestre. O aligeiramento dos vistos para Macau também teve um efeito positivo no hotel.

Acredita que este período económico desfavorável é temporário?

G.A – Acontece em todos os mercados, quando temos excesso de oferta. Sabíamos que isto ia acontecer à China Continental e a Macau. Tivemos um grande crescimento nos últimos anos; agora estamos em queda e nos próximos tempos – talvez entre um e dois anos – vamos ver o reequilíbrio da economia. Normalmente, quando compras uma casa, há um ciclo e, em cada sete anos, a casa sobe e depois desce. O mesmo acontece com a indústria hoteleira. Quando cá cheguei, há três/quatro meses, pensei que tínhamos chegado ao sétimo ano, estamos em modo de estagnação e subsequente recuperação. Vamos voltar ao que era antes? Não será assim tão rápido, mas há uma tendência positiva.

Considerando o Mercado de massas, acredita que Macau entra numa nova fase de desenvolvimento?

G.A – Sim.

Isso afeta também o Sofitel?

G.A – No geral, irá afetar. Antes tudo era sobre casinos. Como factor negativo, temos o abrandamento da economia, mas o lado positivo é que o Governo tem de reequacionar a forma como tem gerido Macau nos últimos anos. Se calhar iremos oferecer produtos turísticos diferentes, como exposições ou celebridades. Haverá coisas a acontecer em Macau, não por causa dos casinos, mas para atrair turistas, que vêm para conhecer os edifícios históricos, bares e outros locais. Isso será positivo para a população.

É uma necessidade apostar na diversificação da economia?

G.A – Sem dúvida! Caímos tanto, porque estávamos dependentes de uma única indústria. Agora, o que estamos a fazer é o que se costuma chamar 80/20: 80% dos clientes a gerar 20% das receitas. E não pode ser assim. Em qualquer economia saudável deve ser 60/40: 40% dos visitantes responsáveis por 60% das receitas. Neste momento, estávamos a 20/80. Quando tirámos esses 20% caímos.

Como está o Sofitel a preparar a mudança rumo à diversificação?

G.A – O nosso foco era abrir uma galeria a três dimensões, que oferece mais um produto atrativo para reter visitantes na nossa zona. Foi bem sucedido em Hong Kong e começa a ser procurado em Macau. A nossa oferta de comida e bebida está a melhorar – mudámos os nossos chefes, por exemplo. No passado tínhamos apenas taxas de ocupação altas, desencadeadas pela oferta de quartos; agora estamos a melhorar oferta – spas e a restauração de luxo. Nos últimos anos, não nos centrámos neste tipo de coisas, porque não era necessário, apresentávamos bons resultados aos investidores.

Sofitel é uma marca internacionalmente reconhecida. As propriedades no Sul da China adoptam uma estratégia diferente da que existe, por exemplo, no mercado europeu?

G.A – Sim; um tamanho não serve a todos. Para cada área, temos diferentes estratégias. Em Macau, temos uma abordagem mais motivada pela taxa de ocupação – tentamos vender grupos, a uma taxa aceitável para conseguir o máximo em termos de ocupação. Mas estamos a mudar – vai ser mais para o visitante individual e ocupação mais baixa. Se pensarmos em Sanya, que tem muita oferta e um aeroporto muito pequeno, há muita competição para grupos – é tudo em volta de encher as camas. Lijiang, nas montanhas, é simplesmente bonito; não tens de te preocupar com jogadores ou turistas da China – vão lá à mesma. Quando olho para os 40 hotéis, tenho quatro ou cinco estratégias diferentes.

A retração económica está a afetar a expansão da marca?

G.A – Não. O crescimento era de 16% e no mundo não se ouvia tal coisa; agora caiu para 6/7%. Para quem vem da Europa, é surpreendente como este país está tão bem. Fomos mimados por muitos anos e chegámos à economia real. A marca Sofitel vai continuar [a expansão na China], que é um grande Mercado. Agora até estamos melhor, porque estamos mais focados na qualidade e a arranjar os hotéis.

Este período de abrandamento é bom para o hotel?

G.A – É bom, porque o crescimento antes não era saudável. A um certo ponto precisas de abrandar, se não explodes.

Alguns analistas acrdeitam que há pode ser mais que um simples abrandamento…

G.A – Depende das expetactivas. Para os analistas chineses, será um desastre. Mas nós vivemos boas vidas. Teremos menos bilionários a comprarem menos Ferraris, mas é ainda forte, com visitantes a chegarem à China.

Quais são os planos para o sul da China?

G.A – Estou agora preocupado com Kunming, que irá surgir em Outubro/ Novembro, altura em que temos também Sanya. Neste momento, estamos a centrarnos nas seis ou sete propriedades que vamos abrir na região sul. Percebemos que o mercado está mal, mas qual é o nosso posicionamento no mercado? É preciso comparar os resultados com o mercado e perceber se o nosso posicionamento é bom. Depois, para além das receitas qual é a margerm de lucro? Por ultimo, estamos centrados na qualidade. Agora temos tempo para vistoriar os hotéis todos e perceber se o corte de cabelo está bem e esse tipo de coisas. Os nossos critérios são muito claros, mas devido à rapidez do negócio na China, por vezes comprometemos a qualidade. Agora regressamos ao básico.

A qualidade e a formação dos recursos humanos nesta região é um problema para a qualidade?

G.A – Foi um desafio durante muitos anos, porque muitos hotéis começaram a abrir e os empregados saltavam de um sítio para o outro. Mas com o abrandamento económico a tendência é outra. As pessoas começam a repensar e são mais leais. Com a lealdade, as competências crescem e veremos melhorias no serviço. Com 90% de taxa de ocupação durante todo o ano não consegue ter sempre a mesma qualidade. Com menos competitividade, com menos gente a abrir novos hotéis, consegues manter mais tempo o pessoal e oferecer mais qualidade.

Espera manter os 90% de taxa de ocupação?

G.A – Um pouco menos de 90%… Estou a preparar o orçamento para o próximo ano, prevendo um crescimento de 2% e a mesma taxa de ocupação. Apesar de mais hotéis estarem a abrir, temos um posicionamento único e estamos a experimentar coisas novas.

Qual é a percentage de jogadores entre os vossos clientes?

G.A – Era de 12%; agora está nos oito, mas deve voltar ao valor antigo. O nosso jogo está a melhorar, mas espero que não cresça demasiado. Se tivermos 100% de jogo, sentes menos família e mais viajantes individuais, virados para o casino.

O casino, sendo pequeno, sofrerá alterações?

G.A – Não haverá alterações. Não há mais licenças para casinos; o que acho bem. 14 de agosto 2015

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