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“LIGAÇÃO CHINA-LUSOFONIA É MISSÃO NATURAL DO BNU”

Os diretores dos bancos do Grupo Caixa Geral de Depósitos nos países lusófonos vêm a Macau este ano a um “encontro de alto nível” para acertar estratégias, revela o presidente do Banco Nacional Ultramarino (BNU), Pedro Cardoso. O objetivo é apostar ainda mais na ligação entre a China e os mercados de expressão portuguesa. O BNU já apresentou um pedido às autoridades de Macau – e em breve às autoridades da China continental – para abrir uma agência na ilha da Montanha. Pedro Cardoso diz que o banco tem de seguir os clientes que vêm na vizinha zona especial uma oportunidade para desenvolver os seus negócios. O BNU voltou a ver os lucros crescer em 2014, sobretudo graças um salto de 30 por cento nos empréstimos, sobretudo a clientes individuais e pequenas e médias empresas. Isto apesar da uma queda nos depósitos institucionais que Pedro Cardoso diz ser “transitória”. Plataforma Macau – Quão importante é a aposta do BNU na ligação China-Lusofonia? Pedro Cardoso – Esta é uma área em que apostamos de tal forma que vamos realizar este ano em Macau um encontro de alto nível com todos os CEOs [‘Chief Executive Officer’ ou director executivo] e directores gerais do Grupo Caixa em países de língua portuguesa, que se destina a afinar estratégias e a elencar alternativas que permitam um crescimento mais acelerado e mais sinergias nessa área. P.M. – Quando será esse encontro? P.C. – Já temos datas mais ou menos alinhadas mas ainda não estão totalmente definidas. Nessa mesma altura vamos também realizar uma retrospectiva da presença do BNU em Macau ao longo de 113 anos, em que se pode vislumbrar como o banco é claramente um facilitador deste processo de cooperação económica. Estamos também a equacionar até que ponto não teremos de ter uma maior parceira ou associação a entidades financeiras chinesas. P.M. – A relação China-Lusofonia está para durar? P.C. – Os dados são inequívocos: nos últimos cinco anos o comércio entre a China e os países de expressão portuguesa praticamente duplicou. Este ano tem havido alguma retracção devido ao preço das matérias-primas e do petróleo mas de uma forma sustentada o interesse tem-se vindo a materializar em negócio. A China é tão grande que ainda estamos muito longe de atingirmos o potencial máximo. P.M. – A China deixou de ser apenas um exportador e passou a ser um investidor. Como é que o BNU pode aproveitar esta vaga? P.C. – Aproveitando a nossa presença em Macau e na China para criar linhas de aproximação entre empresas chinesas e nos países de expressão portuguesa. Existe aqui um networking que não é nada despiciendo e que pode ser assegurado pelo sector financeiro. P.M. – Para as pequenas empresas, a quem falta contactos no outro lado, quão importante pode ser este networking? P.C. – Para as grandes empresas estatais chinesas já há uma fluidez em fazer negócio em qualquer parte do mundo. O papel de Macau e mesmo da plataforma financeira é mais eficaz num segmento mais abaixo e isso não é nenhuma vergonha. Nós temos aproveitado o facto de empresas chinesas terem parceiros de negócios em Macau para estabelecer aproximações a países de expressão portuguesa. Temos de tudo um pouco, desde empresas chinesas que ainda têm uma imagem muito limitada sobre os mercados em questão. P.M. – Sente que há ainda um desconhecimento mútuo entre estes dois mercados? P.C. – De alguma forma. Apesar do esforço realizado pelas entidades oficiais e pelo sector financeiro já ter obtido frutos muito razoáveis, existe ainda um longo trabalho a ser feito e que poderá passar por um melhor marketing e informação mais transparente e visível. CHINA EM PORTUGAL P.M. – Macau tem feito um bom trabalho na ligação China-Lusofonia? P.C. – Os resultados são claramente positivos e vemos um grande dinamismo das entidades oficiais. Mas temos de ser ambiciosos e continuar a acreditar que muito mais pode e deve ser feito. P.M. – O que há a melhorar? P.C. – Existem alguns obstáculos naturais mas não inultrapassáveis, como a língua e o desconhecimento da cultura. Mas hoje em dia cada vez mais vejo chineses a aprender português ou inglês e também pessoas de países de expressão portuguesa a aprender chinês. Num processo de evolução, eu acredito que é mais eficaz muitas pequenas melhorias do que duas ou três grandes ideias ou projectos. P.M. – Que importância dá o Grupo Caixa a esta plataforma financeira? P.C. – Uma das vocações de um grupo detido pelo Estado português é precisamente apoiar a internacionalização das empresas portuguesas e o aumento das exportações. Juntando a isso a presença ímpar do Grupo Caixa nos países de expressão portuguesa, a ligação China-Lusofonia é uma missão natural para o BNU, bem vista e acarinhada pela nossa casa mãe. P.M. – O aumento dos negócios em yuan é disso um reflexo? P.C. – Nos últimos três anos os negócios do BNU em renminbi aumentaram 10 vezes. Mas os depósitos ainda têm uma grande expressão, mais do que a concessão de crédito. O yuan é ainda uma moeda não totalmente convertível. Estamos a acompanhar a liberalização progressiva, com o objectivo de que o yuan seja cada vez mais utilizado nas operações comerciais entre a China e a Lusofonia. P.M. – Uma eventual convertibilidade do yuan tornaria estas operações mais fáceis? P.C. – Penso que é um cenário meramente hipotético. A indexação existente [da pataca ao dólar de Hong Kong] funciona e o próprio regulador [Anselmo Teng, presidente da Autoridade Monetária] crê que não há nada que o coloque em causa. P.M. – Para o Grupo Caixa, a entrada na China é também algo estratégico? P.C. – A China é actualmente um dos principais parceiros de Portugal. Apesar do seu crescimento económico estar em abrandamento, ainda é bastante forte, muito maior do que a média europeia. A China irá certamente no futuro assumir uma posição ainda mais forte de liderança mundial a nível económico. Uma economia pequena e aberta como é Portugal tem de ter isso em consideração. P.M. – Como explicar o interesse das empresas chinesas em Portugal? P.C. – Eu penso que grande parte do investimento chinês em Portugal procura ir um pouco mais longe. Portugal é um ponto de apoio da expansão dos interesses chineses a outras geografias. Algumas das empresas portuguesas em que se tem verificado investimento chinês têm presença em outros mercados, não só da União Europeia mas também em outras geografias. ENTRADA EM HENGQIN P.M. – Como encara os resultados de 2014? P.C. – Os resultados do ano passado seguem a tendência destes últimos anos. Houve um crescimento no volume de negócios assente no crédito, que subiu cerca de 30 por cento. Pelo contrário tivemos um pequeno decréscimo de 6,7 por cento nos depósitos, que resulta unicamente de depósitos de clientes institucionais. P.M. – Qual a razão desta queda? P.C. – Tem a ver única e exclusivamente com uma mera opção do BNU, transitória, para defender a sua margem financeira. Temos demasiados depósitos para o crédito que concedemos. Por outro lado ainda, o sector bancário em Macau é muito competitivo, em que a margem financeira se tem continuado a estreitar. Então para proteger a nossa rentabilidade deixámos de ser competitivos no segmento de depósitos institucionais. P.M. – O crédito concedido ultrapassou os 22 mil milhões de patacas. De onde vem esta procura? P.C. – A banca de retalho e as pequenas e médias empresas são as grandes responsáveis pelo crescimento. Por outro lado está neste momento em desenvolvimento uma segunda fase de projectos no Cotai. As operadoras de jogo estão no pico da necessidade de financiamento e têm vindo a utilizar progressivamente as linhas que nós e outros bancos aqui em Macau dispomos para eles. P.M. – O abrandamento do jogo foi sentido pelo BNU? P.C. – Nós tivemos um impacto relativamente diminuto. Se os turistas utilizam menos as caixas multibanco, pagamos menos com cartão, se os operadores têm menos serviço de transporte de notas, isso tem algum impacto ao nível das comissões. Mesmo assim conseguimos crescer 22 por cento nas comissões líquidas, sobretudo em áreas que não o jogo: investimento em activos financeiros por parte dos nossos clientes e venda de produtos de seguros. P.M. – O BNU já tem mais de 200 mil clientes. Tem havido um esforço deliberado em atrair mais clientes? P.C. – A nossa estratégia, mais do que captar novos clientes, é melhor servir os actuais clientes e desenvolver a venda cruzada de produtos e serviços (cartões, seguros). Neste momento teremos um número médio de 3,2 produtos e serviços por cliente, quando há dois anos estávamos com 2,8. Isto pode parecer pouco mas em muitos milhões de patacas tem um impacto que não é nada desprezível. É muito mais fácil e mais eficiente vender a um actual cliente do que a um cliente acabado de chegar ao banco. P.M. – Até porque, como já disse, o sector bancário em Macau é muito competitivo… P.C. – O mercado de Macau é competitivo em termos de preço. A diferença entre a taxa média de crédito e a taxa média de depósito é de cerca de um ponto percentual, que deve ser das mais baixas em todo o mundo. Não é um mercado tão competitivo em termos de sofisticação. Nós temos vindo a procurar inovar para que os nossos clientes não tenham que procurar alternativas na concorrência. Em Macau é frequente as pessoas terem duas ou três relações bancárias. P.M. – Qual o actual posicionamento do BNU em Macau? P.C. – O BNU é um dos dois bancos emissores em Macau e essa é uma grande vantagem competitiva, mas não é a única. Estamos em Macau há 113 anos, temos relações muito enraízadas e somos parte de um grupo bancário que está presente em 23 países, particularmente com uma presença muito forte em sete países de língua portuguesa. A principal desvantagem é não ter uma presença relevante na China continental. O sector bancário de Macau tem vindo a crescer a um ritmo bastante interessante mas muito alavancado pelos clientes não-residentes. P.M. – Como mitigar esta desvantagem? P.C. – Neste momento temos um pedido junto das autoridades de Macau e, em breve, junto das autoridades da China continental para abrir uma agência na ilha de Hengqin [ilha da Montanha]. Muitos dos nossos clientes têm investimentos na China continental, particularmente em Guangdong, e todas as semanas poderemos estar a fazer negócios adicionais com esses clientes. Por outro lado queremos explorar a cooperação económica entre a China e os países de língua portuguesa e para isso é importante ter uma presença na China. Prevemos que essa agência será inaugurada em meados do próximo ano. P.M. – Porquê em Hengqing? P.C. – A zona especial oferece algumas vantagens fiscais. Por outro lado, é possível que a médio-longo prazo – já se estão a ver alguns passos nesse sentido – muitas das empresas nossas clientes invistam em subsidiárias ou sucursais em Hengqin. Numa óptica de abertura da fronteira por 24 horas por dia, também se vislumbra no futuro que parte da população que trabalha em Macau passe a residir em Hengqin. Vítor Quintã

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