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RAEM DIZ-SE VIGILANTE A ALEGADAS TENTATIVAS DE INCORPORAÇÃO NO ESTADO ISLÂMICO

As autoridades de Macau alegam não terem detetado ainda qualquer cidadão chinês que tivesse procurado usar o território para sair da China com o objetivo de se juntar ao Estado Islâmico. O gabinete do Secretário para a Segurança garante, no entanto, que a Região mantém-se vigilante.

Fontes da polícia de Guangdong deram conta na semana passada de alegadas tentativas de cidadãos chineses suspeitos de terrorismo de entrarem ilegalmente em Macau para, através da Região, conseguirem partir para o Médio Oriente via outro país do Sudeste Asiático e juntar-se ao Estado Islâmico no Iraque e na Síria (ISIS).
Em resposta por escrito ao Plataforma Macau, o gabinete do Secretário para a Segurança informa que, “até à presente data, não foi detetado pelas autoridades de Macau nenhum cidadão chinês que tivesse como destino a incorporação nas fileiras do Estado Islâmico”.
Apesar de realçar que “não foi, até hoje, detetada qualquer situação merecedora de preocupação”, o mesmo gabinete salienta que “Macau mantém, como sempre manteve, uma atitude vigilante relativamente a qualquer afloramento terrorista, para tanto adotando de forma dinâmica as medidas de polícia que a tal se ajustem, em função do nível da ameaça”.
De acordo com um documento interno da polícia de Guangdong que circulou na Internet e foi citado esta semana pelo jornal South China Morning Post, cidadãos chineses da região autónoma de Xinjiang e alegadamente de etnia uigur têm-se deslocado para cidades no sul da China como Cantão, Foshan, Zhongshan e Zhanjiang, onde alegadamente aguardam que sejam ajudados a entrar ilegalmente em Macau.
Segundo o jornal Ming Pao, os autores do ataque com facas que deixou 13 pessoas feridas numa estação de comboios de Cantão, no passado dia 06, tinham originalmente o plano de viajar para o Médio Oriente para se juntarem ao ISIS.
Um dos suspeitos foi morto a tiro pela polícia e outro foi detido. Haverá ainda um terceiro atacante em fuga. Este ataque ocorreu horas depois de a polícia ter levado a cabo uma operação noturna na localidade de Xiniujiao, no distrito de Baiyun, em Cantão, contra alegadamente 40 uigures de Xinjiang suspeitos de terrorismo que se escondiam aí num apartamento.
De acordo com um relatório interno da polícia, duas mulheres tentaram atacar os agentes com facas e foram baleadas, tendo acabado ambas por morrerem. Foram ainda detidas 16 pessoas.
Residentes na zona onde teve lugar a operação policial disseram ao South China Morning Post que os uigures se mudaram para Xiniujiao no final do ano passado e que nunca tinham aí vivido.
Fontes da polícia de Guangdong indicaram, segundo o Ming Pao, que estes suspeitos de terrorismo planeavam chegar a Macau para partirem para o Médio Oriente e se juntarem ao ISIS através de outro país do Sudeste Asiático, mas que foram forçados a permanecer em Cantão depois do barco que tinham arranjado ter naufragado no mês passado.

NAUFRÁGIO EM MACAU

A 27 de fevereiro, uma embarcação com 17 a 18 imigrantes ilegais chineses naufragou ao largo de Coloane, tendo sido detidas seis pessoas e quatro terão conseguido escapar.
No início deste mês, os corpos de um homem e de uma mulher foram encontrados na praia de Hac Sa, suspeitando as autoridades tratarem-se de dois dos sete ou oito passageiros que estavam desaparecidos após o naufrágio.
Segundo as autoridades locais, os detidos afirmaram que o grupo pretendia chegar a Macau para jogar nos casinos do território.
O relatório da polícia chinesa citado pelo South China Morning Post refere que, a 02 de março, fruto do trabalho conjunto da polícia de Macau e da China continental, foram detidos dois homens de Zhongshan e Xinjiang, respetivamente, suspeitos de tráfico humano por alegadamente terem organizado dois grupos de suspeitos terroristas uigures para entrarem ilegalmente em Macau no final de fevereiro.
“Outros uigures estão a aguardar para serem enviados ilegalmente para Macau por este grupo e encontram-se em Cantão, Foshan, Zhongshan e Zhanjiang”, referia o mesmo documento.
Essas duas detenções terão levado a polícia, segundo o Ming Pao, até aos suspeitos escondidos num apartamento de Baiyun.
O gabinete do Secretário para a Segurança de Macau disse a este jornal que os “tripulantes da embarcação naufragada viram ser-lhes aplicadas as medidas legalmente estatuídas em função da sua concreta situação, tendo-se feito regressar à origem aqueles que não possuíam os documentos adequados a entrar e permanecer na RAEM”.
Questionado sobre o número de detenções de indivíduos uigures ou originários de Xinjiang registadas em Macau desde o início do ano, o mesmo gabinete informou não dispor de dados por os “cidadãos chineses de etnia uigur não serem, nessa qualidade, alvo de qualquer tratamento estatístico diferenciado relativamente aos demais cidadãos chineses”.

GUANGDONG EM ALERTA

Segundo o Ming Pao, as autoridades de Cantão tiveram uma reunião de emergência após a operação no início do mês em Baiyun para reforçar a segurança nos aeroportos, estações de comboio, de metro e portos, mas não conseguiram evitar o ataque com facas a 06 de março.
O South China Morning Post informou que Cantão está sob alerta máximo de segurança, as cidades do Delta do Rio das Pérolas sob o segundo alerta mais elevado e o resto da província de Guangdong sob alerta três, segundo o relatório policial interno, que apelava também a uma maior atenção aos aeroportos, estações de comboio, metro e portos.
A imprensa estatal chinesa tem, de acordo com o Ming Pao, evitado abordar alegações de que os autores do ataque em Cantão tenham sido muçulmanos de etnia uigur da região autónoma de Xinjiang, no noroeste da China. Informações sobre o ataque foram mesmo removidas de relatos da imprensa estatal na Internet e algumas fotos e vídeos foram também apagados, segundo o mesmo jornal de Hong Kong.
No final de 2014, a Indonésia deteve quatro uigures acusados de terem recebido treino em campos de um grupo radical ligado ao ISIS naquele país. O Governo chinês chegou a acusar no passado separatistas islâmicos de Xinjiang de terem sido treinados pela Al-Qaeda e outras organizações terroristas internacionais.
A minoria étnica muçulmana uigur concentra-se em Xinjiang e constitui mais de um terço dos 21 milhões de habitantes dessa região. Os uigures, povo turcomano, têm sido acusados de ataques terroristas na China nos últimos anos, semelhantes ao que foi registado em Cantão este mês.
Em maio do ano passado, seis pessoas ficaram feridas também num ataque com facas numa estação de comboio de Cantão, depois de em março 29 civis terem sido mortos e mais de 140 terem ficado feridos noutro que teve lugar numa estação de Kunming.
Em 2002, os Estados Unidos e as Nações Unidas classificaram o “Movimento Islâmico do Turquistão Oriental” (o nome de duas pequenas repúblicas independentes que os uigures criaram em Xinjiang entre 1930 e 1949) como uma organização terrorista.
Principal fonte de petróleo e gás natural para a China, Xinjiang foi considerada como província pela dinastia Qing em 1884, período a partir do qual os uigures, que acusam Pequim de discriminação, começaram uma luta pela independência.

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