O espetro de uma região “governada pelos pobres” foi agitado pelo chefe do executivo, na mesma altura em que a justiça de Hong Kong emitiu uma medida cautelar a proibir a ocupação de Mong Kok.
Leung Chun Ying, o chefe do executivo de Hong Kong nomeado por Pequim, disse esta semana a jornalistas estrangeiros que, se fossem aceites as exigências dos manifestantes pró-democracia, que há 26 dias ocupam artérias principais da cidade, seriam os pobres a dominarem as eleições.
Nessa entrevista, a jornalistas do Wall Street Journal e International New York Times, Y. C. Leung reiterou que são impossíveis eleições no modelo como pretendem os manifestantes pró-democracia. O chefe do executivo referiu que se os candidatos fossem escolhidos pelos eleitores, então a maioria da sociedade dominaria o processo eleitoral.
“É tudo um jogo de números e de representação numérica, e obviamente estaremos a falar de metade da população de Hong Kong que ganha menos de 1.800 dólares americanos por mês”, disse Y. C. Leung.
Recentemente, um académico e habitual conselheiro de Pequim, Wang Zhenmin, teve uma intervenção no mesmo sentido, ao considerar que a generalização do voto põe em causa o capitalismo em Hong Kong. “A comunidade de negócios é um pequeno grupo de elite em Hong Kong, que controla o destino e a economia de Hong Kong. Se ignorarmos os seus interesses, parará o capitalismo em Hong Kong”, disse Wang Zhenmin.
Milhares de pessoas em Hong Kong estão na rua pela quarta semana consecutiva, num protesto que exige o voto direto e universal para o líder do Governo sem qualquer entrave ou pré-escolha por parte do comité eleitoral, um órgão no qual a China acaba por conseguir o poder de seleção.
TRIBUNAL PROÍBE OCUPAÇÃO DE MONG KOK
O Supremo Tribunal da Região Administrativa Especial chinesa de Hong Kong emitiu esta semana uma medida cautelar que proíbe a ocupação da zona de Mong Kok, local das concentrações pró-democracia.
A ordem judicial foi tomada na sequência de queixas interpostas por operadores de transportes públicos de Hong Kong para que as ruas, que foram tomadas pelos manifestantes, recuperem a normalidade.
De acordo com a agência de notícias oficial da República Popular da China, Xinhua, o advogado que representa as empresas afirmou que as manifestações estão a provocar sérios prejuízos a companhias de táxis e de autocarros.
ESTUDANTES DESMENTEM “INTERFERÊNCIA ESTRANGEIRA”
Os líderes do movimento pró-democracia negaram com veemência as declarações do chefe do executivo de Hong Kong, que afirmou que “forças externas” estariam a orquestrar as manifestações em massa.
Num programa de televisão emitido no domingo à noite, o responsável pelo executivo de Hong Kong, CY Leung, culpou as forças estrangeiras pelos protestos em curso na cidade chinesa, mas recusou-se a identificá-los.
As declarações de Leung foram consideradas ridículas pelos líderes do movimento, que insistiram que este foi criado pela necessidade dos habitantes locais por mais liberdades democráticas e pelo crescente descontentamento em relação à desigualdade.
“Os meus vínculos com os países estrangeiros estão limitados ao meu telemóvel coreano e ao meu Gundam (uma série animada com robôs) japonês. E claro todos estes são `Made in China´”, disse no domingo, pela rede social Facebook, um dos líderes do movimento, o jovem Joshua Wong.
Cláudia Mo, uma proeminente advogada pró-democracia, acusou o governo de táticas de difamação. “Não podem sucumbir aos manifestantes e dizer `nós talvez devêssemos fazer concessões?´, mas ao invés disso, tentam denegrir e manchar o movimento. Isto está tudo muito sujo”, disse Cláudia Mo à agência francesa AFP.
A imprensa estatal chinesa tem, repetidamente, alegado que “forças anti-China”, como os Estados Unidos, estão a manipular os manifestantes, e Pequim já advertiu para não a não-ingerência estrangeira nas manifestações que considera um assunto interno.
CY Leung voltou também a sublinhar que o movimento pró-democracia está “fora de controlo” e pediu uma “solução sensata e pacífica”.