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PROTEGER O AMBIENTE COM RENOVAÇÃO DAS LICENÇAS DE JOGO

 

Macau esteve a marcar passo no campo da proteção ambiental quando o grande objetivo era o crescimento económico. Perdeu-se tempo, constata o vice-presidente da Associação da Indústria Lohas de Macau, Johnny Chan. Nesta nova fase de desenvolvimento do território, defende o responsável, a renovação das licenças de jogo deve ser aproveitada para pressionar as grandes empresas a contribuírem para a afirmação de Macau como um centro internacional de turismo e lazer amigo do ambiente.
Captura de ecrã 2014-08-3, às 2.44.59 PMCaptura de ecrã 2014-08-3, às 2.45.11 PM Captura de ecrã 2014-08-3, às 2.45.18 PMPLATAFORMA MACAU Quando foi a associação criada e com que objetivo?

JOHNNY CHAN – A associação foi fundada há três anos por um grupo de empresários de Macau com negócios relacionados, por exemplo, com a poupança de energia e a segurança alimentar, que tinham o objetivo comum de elevar os padrões de proteção ambiental em Macau.

P.M. Por que decidiram apostar no conceito Lohas?

J.C. – Porque à medida que a economia se desenvolve, as pessoas acabam por procurar uma melhoria da qualidade de vida, não só a nível material, mas também espiritual. Isto é a base do conceito Lohas. Trata-se de um estilo de vida saudável que tem em conta a proteção ambiental, a saúde, a utilização de energias verdes e a poupança de energia. É, no fundo, uma espécie de cultura que serve de equilíbrio à vida moderna e que passa por se procurar uma melhor qualidade de vida e não apenas o crescimento do PIB. O objetivo é atingir um PIB verde, esta é a questão mais importante do século XXI.

O conceito Lohas é importante para Macau porque o território está a afirmar-se como um centro de turismo internacional. Para conseguir um crescimento equilibrado é preciso elevar os padrões de vida da cidade de forma geral, também para os turistas se sentirem tentados a regressar.

 

P.M. Como descobriram o conceito Lohas?

J.C. – Alguns dos fundadores tinham visitado a Europa e Taiwan, onde o conceito Lohas estava mais maduro e ficaram entusiasmados com a ideia de introduzir o conceito em Macau.

Estes empresários também buscam o lucro, mas aperceberam-se de que o consumidor está mais exigente e quer hoje produtos saudavéis. Macau não é um centro de produção, temos de importar tudo e alguns empresários consideraram haver boas perspetivas de negócio decorrentes de uma aposta num estilo de vida Lohas.

 

P.M. Quais os objetivos da associação?

J.C. – Promover produtos e serviços associados ao conceito Lohas, que sejam ecológicos e proporcionem uma vida mais saudável aos consumidores. Contamos com o apoio de várias organizações de saúde privadas de Macau e também vamos às escolas para alertar os mais jovens para a importância de um estilo de vida Lohas, saudável e amigo do ambiente.

MONTRA PARA A CHINA

P.M. Qual é a importância deste estilo de vida hoje em dia, especialmente na China?

J.C. – A proteção ambiental está presente em vários aspetos deste estilo de vida, desde o que comemos à forma como nos deslocamos. Na China, nos últimos 20 anos, o crescimento económico foi muito rápido, mas ele veio criar muitos problemas, especialmente nas cidades. Os jovens estão, por isso, cada vez mais preocupados com esta questão da proteção ambiental. O problema é que a maior parte da China ainda é rural e, por isso, o desperdício de energia ainda é grande e a reciclagem está numa fase muito inicial. Será preciso muito tempo e esforço por parte do Governo e do setor privado para elevar os padrões de proteção ambiental na China.

Macau pode servir de exemplo para muitas cidades chinesas, porque somos uma região pequena e todos os anos recebemos milhões de turistas que contribuem para a poluição atmosférica, desperdício de água e todo o tipo de problemas do género. Macau pode, por isso, ser uma plataforma muito boa para a utilização de tecnologia verde de ponta e depois para a sua exportação para a China continental. Podemos também introduzir produtos verdes e utilizar o território para atrair consumidores da China continental, até porque este é um mercado turístico muito importante para Macau.

P.M. E como vê o mercado de Macau em termos de proteção ambiental?

J.C. – Penso que o maior problema está no setor privado, onde há muito espaço para melhorar a forma como lida com a energia, a água e com a reciclagem.

Os serviços geram maior preocupação, especialmente a indústria hoteleira, no sentido de conseguirmos que Macau seja um centro de lazer com um bom ambiente. Isto significa que temos de conseguir manter a água limpa, os alimentos seguros, por exemplo. Recentemente houve problemas com a carne do McDonald’s na China e isso é um grande problema. Temos, por isso, de oferecer aos nossos turistas alimentos seguros, transportes convenientes. Este é um processo contínuo. Penso que o Governo está agora a fazer algo neste sentido. Os resultados poderão ser mais claros nos próximos dez anos, porque estamos agora a tentar usar gás na produção de eletricidade, a construir o metro ligeiro, medidas que não têm resultados a curto prazo.

 

PRESSIONAR EMPRESAS

P.M. Macau poderia e deveria fazer mais nesta área?

J.C. – Não temos táxis a gás nem carros elétricos, não temos normas e legislação para encorajar a poupança de energia. Muito do esforço do futuro deve passar pela criação de normas e legislação pelo Governo e depois dever-se-á promover esta ideia junto do setor privado, especialmente junto dos hotéis e dos casinos. Os grandes hotéis estão cientes do custo da eletricidade e sabem que se investirem em poupança de energia conseguem poupar dinheiro, acabando por recuperar esse investimento a curto ou médio prazo.

 

P.M. E estão a fazê-lo?

J.C. – Não, porque o Governo ainda não desenvolveu muitos esforços para adotar normas e legislação nesta área. É preciso acelerar este processo e considero ser necessário nomeadamente a criação de benefícios fiscais para as grandes empresas que implementem tecnologia e produtos amigos do ambiente e tenham bons resultados a nível da proteção ambiental. E, por outro lado, quem gastar grandes quantidades de energia deve pagar tarifas mais elevadas.

 

P.M. Julga que este tipo de medidas deviam ter sido aplicadas, por exemplo, logo quando se iniciou a construção dos grandes casinos?

J.C. – Sim, perdemos tempo. Julgo que não se pensou muito no início em proteção ambiental. Se virmos, a Direção dos Serviços de Proteção Ambiental foi criada há apenas uns quatro ou cinco anos. Antes a atenção estava concentrada no crescimento económico, por isso permitiu-se a construção rápida de casinos e hotéis e com os menores custos possíveis associados, porque as medidas de proteção ambiental elevam os custos. Agora estamos numa outra fase desenvolvimento e aproxima-se a renovação das licenças de jogo. Nesta fase, julgo que o Governo pode adotar várias medidas de proteção ambiental. Neste processo de negociação das licenças de jogo, o Governo deve negociar com as operadoras, exigindo certas medidas de proteção ambiental, por exemplo, a utilização de autocarros elétricos em troca de benefícios fiscais. Esta seria uma boa altura para o Governo dar este passo importante.

 

P.M. Quanto à reciclagem, Macau praticamente não recicla…

J.C. – Porque não há regulamentação e ninguém está preocupado com a reciclagem. É preciso começar primeiro com os grandes negócios, porque há muitas coisas que eles podem reciclar e reutilizar. Depois devemos introduzir esta ideia da separação do lixo para reciclagem nos lares.

A maior parte do lixo que pode ser reciclada vai para a China, porque Macau não tem espaço. A criação de infraestruturas para reciclagem em Macau não é muito realista. Uma perspetiva é tentar cooperar nesta área com Zhuhai e usar a ilha da Montanha, que não está muito próxima da área urbana, o que teria um menor impacto sobre o ambiente urbano.

Em Macau, só podemos queimar os resíduos na incineradora, o que é muito mau, e, por isso, é preciso dividir os resíduos que são queimados, ou levar os resíduos para um aterro em Coloane, o que também é uma solução a curto prazo.

P.M. –  Um dos principais problemas de Macau nesta área é, portanto, a falta de regulamentação?

J.C. – Sim, há falta de regulamentação e também há regulamentação desatualizada que não responde às necessidades de uma cidade moderna. Hoje temos melhores condições para o fazer do que há dez anos, as receitas públicas são suficientes para apoiar medidas de proteção ambiental. Não há espaço para desculpas, é preciso que Macau esteja ao nível das cidades modernas, protegendo o ambiente.

Penso que especialmente entre os mais jovens está a aumentar a consciencialização em relação ao ambiente e esta geração poderá vir a contribuir para uma maior discussão pública sobre esta matéria.

 

MUDAR PARA GANHAR

P.M. Macau também está a ser afetada por alguns problemas ambientais da China…

J.C. – Sim, a nossa água vem da China e se ela ficar poluída, claro que seremos bastante afetados, e se acontecer alguma coisa com as centrais nucleares chinesas que estão próximas de Macau, o nosso ar também será afetado. Nós precisamos, então, de ter uma política no sentido de estabelecer cooperação com a China nesta matéria. A alimentação também é uma questão importante. Macau tem um centro de segurança alimentar, mas penso que precisamos de investir mais em formação de pessoal para análises de amostras de alimentos da China para garantir a qualidade dos produtos alimentares.

 

P.M. –  É difícil para um residente de Macau ter um estilo de vida Lohas?

J.C. – Não, há algumas coisas que podemos implementar no nosso dia a dia. Há coisas que não podemos mudar, como a poluição atmosférica, mas podemos mudar-nos a nós próprios, podemos mudar os nossos hábitos, consumindo menos fast food, poupando energia na nossa casa e escritório. A ideia é procurar melhorar a nossa qualidade de vida e no fim toda a sociedade beneficiará desse esforço.

P.M. Este estilo de vida pode ajudar também Macau a diversificar a sua economia?

J.C. – Sim. O estilo de vida Lohas ajudará Macau a diversificar as indústrias de serviços, a implementar novos produtos no mercado, porque nas indústrias tradicionais é preciso muito capital, terra e mão de obra. Mas pequenas e médias empresas poderão, seguindo o espírito Lohas, criar artesanato, produtos culturais criativos com design e para tal não será necessário consumir tanto espaço e capital. Poderíamos incentivar mais jovens a apostarem nisto, como acontece, por exemplo, na Suíça e em Itália. Seria benéfico pôr o design e a criatividade ao serviço da cultura local, criando produtos típicos e marcas reconhecidas no mercado com preocupações de proteção ambiental, utilizando-se materiais amigos do ambiente, materiais recicláveis, sem se causar muita poluição.

 

Patrícia Neves

 

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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