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IPM AJUDA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE PORTUGUÊS NA CHINA

 

PLATAFORMA MACAU O Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa realizou este mês o primeiro curso de formação de professores de língua portuguesa. Que balanço faz destas duas semanas?

CARLOS ASCENSO ANDRÉ Foi muito positivo. Os formandos – todos professores – fizeram uma avaliação anónima e sem a nossa presença. Fiquei muito satisfeito porque a avaliação foi muito elevada, em relação à logística, à organização, aos temas e à prestação dos docentes.

Também fiquei satisfeito com o facto de terem estado presentes 20 pessoas que vieram de universidades chinesas. Se tivermos em conta o facto de, ao mesmo tempo, estar a decorrer uma formação na área da tradução na escola de línguas, também com professores vindos da China -tivemos mais de 30 pessoas a frequentar uma ação de formação aqui, o que significa mais de um terço dos docentes de português na China. Isso é significativo. Estiveram presentes mais de metade das universidades chinesas que leccionam português na China.

Tudo isto revela, por um lado, a recetividade que este tipo de iniciativas tem e o prestígio que o centro tem vindo a ganhar junto dos professores de português e dos departamentos de português das universidades da China continental. Por outro lado também revela a enorme necessidade deste tipo de ações.

P.M. Qual é a maior dificuldade na formação de docentes chineses que ensinam português?

C.A.A. A maior dificuldade resulta da grande diferença que existe entre as línguas. A estrutura lógica do chinês é uma estrutura que não tem nada a ver com a estrutura do português ou das línguas ocidentais. É muito difícil para um chinês apreender esta estrutura, transformar-se verdadeiramente em bilingue e conseguir transformar isso na capacidade de ensino e em pedagogia de português. Existe um abismo profundo entre as duas línguas na organização, estrutura e na sua filosofia – se é que podemos falar numa filosofia das línguas. Depois há uma dificuldade que tem a ver com o facto do ensino do português ter resultado numa explosão na última década. Há 10 anos havia cinco ou seis universidades que ensinavam português e hoje passou para 26. Esta explosão teve uma consequência: os professores tiveram de ser encontrados entre jovens recém-licenciados, ou seja, a China produziu professores à pressa. As pessoas licenciavam-se, terminavam as suas formações, faziam mestrado e logo a seguir começavam a dar aulas.

P.M. Qual é a maior dificuldade na formação de docentes chineses que ensinam português?

C.A.A. A maior dificuldade resulta da grande diferença que existe entre as línguas. A estrutura lógica do chinês é uma estrutura que não tem nada a ver com a estrutura do português ou das línguas ocidentais. É muito difícil para um chinês apreender esta estrutura, transformar-se verdadeiramente em bilingue e conseguir transformar isso na capacidade de ensino e em pedagogia de português. Existe um abismo profundo entre as duas línguas na organização, estrutura e na sua filosofia – se é que podemos falar numa filosofia das línguas. Depois há uma dificuldade que tem a ver com o facto do ensino do português ter resultado numa explosão na última década. Há 10 anos havia cinco ou seis universidades que ensinavam português e hoje passou para 26. Esta explosão teve uma consequência: os professores tiveram de ser encontrados entre jovens recém-licenciados, ou seja, a China produziu professores à pressa. As pessoas licenciavam-se, terminavam as suas formações, faziam mestrado e logo a seguir começavam a dar aulas.

P.M. E isso ressente-se na qualidade. 

C.A.A. Isto não é um defeito, é um resultado. Eles próprios têm consciência de que precisam de fazer muita formação contínua. O terceiro problema resulta do facto de eles terem sido formados na China e terem ensinado na China, ou seja, estarem imersos numa realidade linguística que não tem nada a ver com o português. Ensinar português na China não é a mesma coisa que ensinar português a um chinês em Portugal.

 

P.M. Falou em formação contínua. É difícil para um docente continuar a formação na China continental?

C.A.A. Sim, em Macau também. É para isso que estamos a trabalhar, para dar formação contínua aos professores de português na China continental e ações de formação contínua para Macau. Já temos uma conversa em estado aprofundado com a Direção para os Serviços de Educação e Juventude nesse sentido.

P.M. Algo concreto?

C.A.A. Em Macau há regularmente ações de formação. Os professores das várias áreas têm de fazer formação e nós temos aqui professores altamente qualificados. Não é necessário ir procurar fora porque temos a possibilidade de dar essa formação contínua e propusemos fazê-lo. Estamos numa fase adiantada das conversações para podermos fazer formação contínua aos professores de português do território.

 

P.M. O centro tem três professores e vão chegar mais dois. É difícil recrutar doutorados?

C.A.A. Fiz um concurso e de dois lugares só preenchi uma vaga. Vou trazer um docente convidado e abrir um concurso novo para mais um docente doutorado nesta área. E não pararemos por aqui porque se levarmos por diante todos os nossos objetivos – produção de materiais, formação e investigação – obviamente que só nós não chegamos.

 

P.M. O Presidente do IPM falava numa parceria de Coimbra para a formação destes docentes. Parece-lhe viável?

C.A.A. É muito provável que venha a acontecer. Nós estamos neste momento a desenhar um mestrado no ensino do português como língua estrangeira entre o IPM, a Universidade de Línguas Estrangeiras de Guangzhou e a Universidade de Coimbra. Este será leccionado pela Universidade de Coimbra, onde o ensino do português como língua estrangeira tem uma longa tradição. É o mais antigo existente em Portugal. Os cursos de português para estrangeiros começaram em Coimbra há 90 anos.

 

P.M. Visitou várias universidades chinesas que lecionam português. O que leva estes alunos a aprender a língua?

C.A.A. Vou ser muito direto. Essencialmente é uma questão de mercado, ou seja, os alunos veem aqui uma porta aberta para um futuro profissional razoável. Toda a gente sabe que a China considerou o ensino do português como uma opção estratégica e a razão de ser é o mercado. E porquê? A China está a fazer grandes investimentos e parcerias do ponto de vista económico e empresarial com o Brasil, Moçambique e Angola. Está a fazer também grandes investimentos em Portugal, através do qual penetra numa parte da Europa. E por isso a China verificou que é importantíssimo o português para levar por diante este tipo de investimentos. De cada vez que há um grupo de chineses que se desloca para países lusófonos, tem de ir acompanhado de tradutores e o contrário também.

Encontrei em Shiheze, no meio do nada, perdido no deserto de Gobi, 18 técnicos angolanos que estavam a fazer um estágio por conta de uma empresa chinesa que tinha uma parceria em Angola. A acompanhá-los como tradutor estava um ex-aluno do IPM. Este é um exemplo da necessidade de tradutores que qualquer organização chinesa tem quando quer penetrar no mundo português. A consciência destas necessidades levou as pessoas a descobrir que o português é um bom instrumento para conseguir um emprego.

 

P.M. Chegou a Macau em 2013 para dirigir o centro. Que balanço faz deste ano?

C.A.A. Muito positivo. As expetativas eram altas, a vontade que eu trazia de fazer coisas era muita, que até o sr. presidente do IPM me disse para refriar um pouco, fiel ao princípio que os chineses também têm de que devagar se vai ao longe. Mas, acho que conseguimos muito. Durante quase todo o ano estive sozinho, mas consegui fazer o retrato do que existe na China e isso exigiu muito trabalho. Consegui desenhar todos estes projetos que agora se começam a concretizar e começam a ser palpáveis os resultados de uma coisa que parecia que não existia.

 

Catarina Domingues

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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