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CRIATIVOS QUEREM MAIS PROMOÇÃO INTERNACIONAL DAS MARCAS LOCAIS

 

Num mercado com pouco mais de 600 mil habitantes e onde o custo de vida dispara de mês para mês, os pequenos negócios lutam pela sobrevivência. Os criativos têm, por isso, os turistas na mira, mas reclamam mais espaços e promoção internacional para provarem que Macau não é só feita de casinos.

 

Chan Pui Yee, de 46 anos, trocou há 10 anos Hong Kong por Macau, onde abriu um pequeno negócio de design gráfico, que deu origem ao Espaço Miau/Meow Space, uma loja com um conceito original que aliava a criatividade ao resgate e adoção de gatos de rua numa terra onde pouco se sabia e se falava de indústrias criativas. Hoje, com uma marca já estabelecida no mercado, o Meow Space não resistiu aos crescentes custos de manutenção do negócio e fechou portas em junho ao fim de sete anos.

“O contrato de arrendamento terminava este verão e tive de tomar uma decisão. As rendas subiram muito, é uma realidade muito diferente face há dez anos, quando comecei este negócio. Esta situação contribuiu para o encerramento da loja”, disse a empresária ao Plataforma Macau, sublinhando, no entanto, que problemas de saúde foram a principal razão.

O Meow Space vendia produtos criativos como malas, t-shirts, cadernos e postais inspirados nos gatos que a sua dona resgatava da rua. “Salvámos cerca de 1500 desde que abrimos a loja”, conta.

No arranque do negócio, “era difícil fazer dinheiro”. “A loja estava numa rua onde passava pouca gente, mas os turistas começaram a visitar-nos, muita gente ia brincar com os gatos e começámos a ter muita clientela”, diz Chan Pui Yee.

Para a empresária, “é difícil gerir um negócio de indústrias criativas em Macau, porque é uma cidade pequena, com pouca população, as rendas e os salários estão elevados, há pouca mão de obra qualificada e estamos dependentes do turismo”. A grande questão, diz, é conseguir manter espaços abertos com os preços do imobiliário em alta e conseguir atrair turistas.

“O Governo precisa de promover mais as marcas locais no exterior, sabemos que investe muitos recursos nas indústrias criativas, mas a concorrência é forte, nomeadamente de Hong Kong, Taiwan e Japão”, salienta.

Para Chan Pui Yee, o segredo dos negócios criativos em Macau passa por “não dependerem do mercado local e por conseguirem cortar os custos operacionais, o que é muito difícil”.

 

UMA QUESTÃO DE TEMPO

A Free Dream Production Studio é uma produtora de vídeo e filmes que está há dois anos no mercado e também sente que Macau é pequena demais para a criatividade se afirmar como um negócio lucrativo. “O mercado é um entrave ao desenvolvimento da indústria. Macau tem apenas cerca de 600 mil habitantes, por isso não podemos depender só desta audiência, temos, portanto, este desafio de chegar ao mercado global”, disse Keo Lou, de 24 anos, um dos sócios da empresa.

Na escola secundária, Keo e três amigos começaram a fazer vídeos com a marca Free Dream, que deu origem a um negócio que acabaram por arriscar montar. A produtora dedica-se hoje à realização de vídeos promocionais de serviços públicos e de outros encomendados por empresas e organizações locais. O “negócio corre bem”, mas o objetivo é chegar à ficção, um passo de gigante para uma pequena empresa de Macau. “Temos salas suficientes para mostrar o nosso trabalho, o problema é a falta de recursos humanos qualificados na área da produção cinematográfica e temos também muita dificuldade em conseguir quem nos faça a distribuição dos filmes”, explica. Pequim é onde os realizadores se dirigem para encontrarem distribuidoras, mas “é difícil, porque é preciso conhecer pessoas”.

Na opinião de Keo, o Governo “tem feito muito” pelo cinema local, mas “talvez seja preciso mais tempo para se desenvolver”. “Esta indústria só começou a crescer talvez há um ano ou dois e as pessoas se calhar gostariam que ela se desenvolvesse muito rapidamente, mas é preciso tempo até ela se tornar mais lucrativa”, defende.

Muitos apoios públicos, realça, “deixa as pessoas preguiçosas”, por isso, eles devem ser equilibrados e o grande papel do Governo, aponta Keo, deve antes passar pela ajuda à internacionalização. “É uma forma de desenvolver a indústria sem dinheiro”, constatou.

 

UNIÃO FAZ A FORÇA

Os criativos no mercado reconhecem vários desafios ao desenvolvimento das indústrias criativas, mas consideram que se houver espaços para um intercâmbio de conhecimento e um contacto direto com o público o setor ganha um novo fôlego.

“O mais importante é a educação do público [para saber melhor o que são indústrias criativas]. Muita gente não sabe, por exemplo, o que é o design e acha que não precisa disto. É muito difícil mudar esta mentalidade”, constata Pilly Au, de 26 anos, designer de interiores que abriu a empresa MPLUS em 2012.

A proposta deste pequeno empresário é a recuperação de um edifício industrial ao serviço da arte para que “os artistas possam aí reunir com regularidade e realizar workshops, possam ter aí estúdios, contactar diretamente com o público e vender os seus produtos e serviços”, à semelhança do que existe na vizinha Hong Kong e em Taiwan.

“As indústrias criativas podem melhorar a imagem de Macau, mostrando que o território não é só feito de jogo, por isso os centros comerciais locais, que hoje só vendem marcas de luxo, poderiam também vender mais marcas de Macau”, acrescentou para realçar que o contacto com a produção criativa abre caminho ao desenvolvimento desta indústria.

A MPLUS dedica-se ao design de interiores de habitações e tem como principais clientes proprietários de casas entre os 20 e os 40 anos. “Não estamos a beneficiar do crescimento da indústria hoteleira, porque a nossa empresa é pequena”, lamenta Pilly Au, que estudou nos Estados Unidos e decidiu arriscar um negócio de design de interiores em Macau ao deparar-se com um aumento da população local.

As rendas elevadas e a falta de mão de obra qualificada são os grandes desafios que a sua empresa enfrenta, indica, juntando à lista a “falta de apoios do Governo por se tratar de uma área das indústrias criativas que não tem produtos, mas fornece apenas serviços”.

As saudades de Macau levaram Isabella Choi, de 27 anos, a deixar Londres após a conclusão dos seus estudos e a criar uma marca de roupa em Macau, a Nega C. “Quando abri a minha loja há cerca de dois anos, queria só vender a minha roupa e não queria importar nada, mas isso revelou-se difícil porque as pessoas de Macau ainda não estão muito preparadas para aceitarem coisas novas, por isso, hoje cerca de metade do meu stock é importado da Coreia”, explicou a designer de moda ao Plataforma Macau.

O negócio, diz, está “estável, mas não é extremamente lucrativo”. “As rendas estão a aumentar muito e Macau é um mercado pequeno, é difícil”, reconheceu Isabella Choi.

Para esta empresária, as indústrias criativas “vão demorar anos a amadurecer” e para tal, defende, é preciso os criativos começarem a unir esforços para a imagem de Macau neste setor “ganhar força” face a outros mercados e conseguir internacionalizar-se.

“Acho que as indústrias criativas têm uma boa oportunidade dando a conhecer a cultura de Macau, que influencia a forma como vemos as coisas e os nossos produtos”. Isto é muito importante, sublinha Isabella Choi ao constatar que “quando queremos conhecer uma cidade ou uma cultura vemos filmes, prestamos atenção ao que as pessoas vestem, ouvimos música local”. Por isso, concluiu, as indústrias criativas “são importantes para mostrar que Macau não é só feita de casinos”.

 

Patrícia Neves

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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